Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2002Crônicas

Cáspite!

Vi uma menina mexendo naquela engenhoca dos infernos e perguntei: “Porque você está reinando nesse computador?” Acredita que ela não entendeu? Perguntou: “Como assim reinando?” Se ela ainda perguntasse “o que é computador?”, vá lá, mas não saber o que é “reinando”… Essa garota deve ter lá seus 20 anos. Aproveitei para testar minha senilidade em contraste com a juventude dela. Um desastre:
— O seu pai ‘ralha’, quando você ‘arrelia’ seu irmão? E se algum rapaz ‘bulir’ com você na rua, seu ‘broto’ se incomoda?
— Ralha? Arrelia? Bulir? Broto? O que é isso?
— O seu pai chama sua atenção, quando você atormenta seu irmão? E se algum rapaz mexer com você na rua, seu namorado se incomoda?
— Quando criança, você era uma garota ‘sapeca’, do ‘chifre furado’, da ‘pá virada’?
— Que conversa maluca é essa? Imagine se eu tenho chifre! Ainda mais furado… Tá pensando o quê?
— No trabalho, você é ‘quatro paus’ para fazer o serviço, é ‘pau para toda obra’ ou vive ‘palhaçando’?
— ???
— Você tem vitrola em casa?
— Vitrola? Minha avó falava isso. Mas o que é mesmo?
— Você costuma salgar a pomba?
— … essa acho que entendi. Você quis dizer…
— Deixa pra lá, deixa pra lá… Me conta, quando você vai passear, usa ‘pega-rapaz’? Se seu namorado demora, você fica com ‘caraminhola na cachola’? Se der na ‘sapituca’, você xinga ele de ‘queima campo’?
— Nessa, você tem de pôr legenda. O que é pega-rapaz? Um gancho?
— Mais ou menos. Era um penteado, com parte da franja virada sobre a testa… Se ele demora, você ‘encuca’ e se der na ‘telha’, chama o coitado de mentiroso?
— Passe aquele ‘marrio’ pra mim. Não sabe o que é marrio? Ceroula você sabe? Pois então, antigamente, se usava um barbante para segurar os cuecões na cintura. Principalmente no frio, os homens usavam ceroula debaixo das calças e para dormir. ‘Marrio’ é esse barbante aí…
— Antigamente devia ser duro conversar, né?
— ‘Bidu’! Mas esse seu namoro é pra valer ou ‘fogo de palha’? Você disse que ele é ‘avoado’, meio ‘chalalá’…
— Conversa de doido. Veja se eu adivinho: fogo de palha é porque acaba logo, avoado é distraído e ‘chala não sei o quê’ deve ser bobo. Mas ‘bidu’ o que é?
— Adivinhão. Falar nisso, sabe a diferença entre ‘bidu’ e bidê?
— Não…
— Pergunte ao seu irmão. Contei para ele; ele sabe. Tenho vergonha. É mais fácil um ‘boi voar’ do que eu contar. E por falar em boi, vou te ensinar mais algumas “daquele tempo”: se alguém azucrinar, mande ‘amolar o boi’ ou estrile: ‘Vá caçar sapo com bodoque”’. Se encherem você de serviço, diga que não é ‘burro de carga’…
— Estrila? Bodoque?
— É… fique brava, rode a baiana… E bodoque é estilingue.
— Agora, eu entendi.
— Seu pai nunca passou um ‘pito’ em você?
— Passou o quê em mim?!?! Mais respeito!!
— Um ‘pito’… Ele nunca deu bronca?
— Ah bom!… Pito… Gozado… Que susto! Justo meu pai? Quer saber? Chega! ‘Vá ver se eu estou na esquina!’
— Uai! Onde você aprendeu essa?
Pregado no poste: “Mãos ao alto! Isto é um Plano de Doença!”

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