Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2002

Cartas da roça

Neste dia, dedicado ao ser vivo mais importante da Terra, cato das lembranças desta vida de repórter manifestações de quatro guerreiras bóias-frias, braços da riqueza da agricultura paulista. Como essas mulheres são fortes, simples, grandes e injustiçadas!
“Meu dia é uma rotina, uma correria só. Faço almoço, arrumo materiais escolares do meu filho, as coisas do marido, enfim, arrumo tudo e saio para o trabalho. Todos os dias, as cinco e meia, já está tudo pronto. Nesta luta, já se passaram oito anos. Encaro tudo com muita garra, respeito e amor; para mim, assim se torna mais fácil. Sabe, penso no amanhã, quando um filho pedir um pedaço de pão e não ter um grão de feijão para oferecer; pedir um chinelinho novo e não ter nem um velho. Isso que acho que deve ser uma vida dura. Hoje, vivendo nesta rotina, posso dar o que comer, o que vestir, aos meus filhos; comprar meus móveis. É por isso e muito mais que me sinto bastante feliz e enfrento qualquer dificuldade por amor aos meus filhos. A dura vida enfrenta-se com ânimo, coragem e força de vontade. Assim eu penso! Por tudo isso, só me resta agradecer a Deus, primeiramente, e depois aos funcionários da usina que dão, pra nós mulheres, a oportunidade de mostrar que somos capazes de executar esse serviço duro quanto os homens. Gostaria que dessem mais oportunidades às mulheres, pois muitas necessitam, são capazes e se encontram de fora, pois acredito que realizariam o trabalho com amor e responsabilidade. Sempre confio. O pouco, com Deus, se torna muito. Ele é meu pastor, nada me faltará”. Elza Pereira Cardoso, 24 anos, Jaboticabal.
“Se minha mãe é demais? Para minha mãe ainda não existe uma palavra que possa definí-la. A ela devo tudo, tudo o que tenho, tudo que sou. Ela e meus irmãos mais velhos me criaram, por falta de meu pai. Tenho uma mãe sofrida, mas muito forte, que nunca nos abandonou, como fez meu pai. Ela dá, a vida por nós. Nunca a culpei, por não ter aquilo que eu queria, pois eu sabia que se ela não me desse, era por motivos sérios, como a falta de dinheiro, também criar 12 filhos sozinha. Tem de ter muita coragem, não é qualquer mãe que faz isso. Quer dizer, não conheci nenhuma mulher, fora ela, que fizesse isso. é claro que recebemos ajuda de muitas pessoas, mas ela nunca precisou de outro homem para nos criar. E isso eu a agradeço. Para mim, ela é a mãe que todos deveriam ter, corajosa, amável, um coração enorme, trabalhadora, honesta, sincera. Além de todos esses elogios, eu acho ela linda, uma mulher maravilhosa, feminina e vaidosa. Ela é, para mim, tudo o que eu gostaria de ser e, com certeza, serei. Eu a amo”. Clarice Helena, 19 anos, filha de Maria José de Matos, 59, Santa Ernestina.
“Me levanto todos os dias às três e meia da manhã. Faço almoço e vou pra luta. Todos os dias canso muito, mas tenho de lutar porque sem luta não há vitória. Só trabalho, não tenho tempo pra nada. Faz cino anos que moro aqui em Barrinha e nunca fui na feira, quanto mais nos mercados. Pago aluguel, moro perto da dona da casa e nunca tive oportunidade de ir à casa dela pra conversar. Mas sou muito feliz assim, mais do que muitas pessoas que queriam estar trabalhando como eu, mas estão em uma cama”. Sebastiana Braga Rodrigues, 36 anos, Barrinha.
“De todos os anúncios que passam na televisão, a única coisa que eu queria comprar, mesmo, é a fazenda do iogurte Chambourcy. O resto é besteira.” Rosemeire Santos, 32 anos, Dracena.

 

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