Caro Tinoco,
Nenhum cantor, mas nenhum, da nossa música caipira tem a sua importância para a nossa cultura, para a formação da nossa nacionalidade. Há algum tempo, tomei conhecimento de suas dificuldades. Queria eu ter o dinheiro necessário para resolver de uma hora para outra todos os seus problemas – ao mesmo tempo, dá nojo saber que bastam três ou quatro ‘sertanojos’, que existem por sua causa, embora graças à prostituição da sua obra, e que poderiam fazê-lo de uma hora para outra. Bastaria um show – com aquilo que eles cantam, mesmo, fazer o quê?
Mas o que seria muito importante mesmo, caro Tinoco, é que nos dissesse de quem você esperava ajuda e ela não veio. Todos precisamos saber quem presta e quem não presta nesse meio. A melhor resposta que você pode dar a eles, incrível, está na letra de sua primeira gravação com o Tonico, “Em vez de me agradecê”, de 1945. Basta trocar a “Cabocra” pelos ímpios. Veja como se encaixa “dereitinho”, amigo:
Cabocra; pra le agradá
Já compri o meu devê
Fiz o que pude inté mais
Do que divia fazê
Só pra vê se cunsiguia
Sê amado por vancê!
Mais quá!… Vancê é ingrata
Num sabe correspondê
Puis tá sempre se quexano
Im veis de agradecê!
Falô mar do meu ranchinho
Por ele ser de sapê!…
Intão fiz um sacrifício
Gastei, memo sem podê!
Mandei fazê uma casa
Bem do gosto de vancê
Mais quá!… Vancê é marvada
Começô logo a dizê
Que a casa tinha defeito
Im veis de me agradecê!
Quis fazê vancê feliz
Quis le dá tod’os prazê
E nenhum dos seus capricho
Eu dexei de atendê
Esperando que um afeto
Eu viesse a mercê
Mais quá!… Por tudo que eu faço
Só pelo amor de vancê
Vancê paga cum despreso
Im veis de me agradecê!
Por nunca ter cunsiguido
Sê amado por vancê
Eu jé tenho maginado
Inté… desaparecê!!!
Será mais um sacrifício
Que eu ainda vô fazê!
Mais, se um dia eu for s’imbora
Só pra le sastifazê
Vancê tarveis se lastime
Im veis de me agradecê!
Pregado no poste: “O Brasil acabou, gente!”