Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2009Crônicas

Caro Tinoco,

Nenhum cantor, mas nenhum, da nossa música caipira tem a sua importância para a nossa cultura, para a formação da nossa nacionalidade. Há algum tempo, tomei conhecimento de suas dificuldades. Queria eu ter o dinheiro necessário para resolver de uma hora para outra todos os seus problemas – ao mesmo tempo, dá nojo saber que bastam três ou quatro ‘sertanojos’, que existem por sua causa, embora graças à prostituição da sua obra, e que poderiam fazê-lo de uma hora para outra. Bastaria um show – com aquilo que eles cantam, mesmo, fazer o quê?

Mas o que seria muito importante mesmo, caro Tinoco, é que nos dissesse de quem você esperava ajuda e ela não veio. Todos precisamos saber quem presta e quem não presta nesse meio. A melhor resposta que você pode dar a eles, incrível, está na letra de sua primeira gravação com o Tonico, “Em vez de me agradecê”, de 1945. Basta trocar a “Cabocra” pelos ímpios. Veja como se encaixa “dereitinho”, amigo:

Cabocra; pra le agradá

Já compri o meu devê

Fiz o que pude inté mais

Do que divia fazê

Só pra vê se cunsiguia

Sê amado por vancê!

Mais quá!… Vancê é ingrata

Num sabe correspondê

Puis tá sempre se quexano

Im veis de agradecê!

Falô mar do meu ranchinho

Por ele ser de sapê!…

Intão fiz um sacrifício

Gastei, memo sem podê!

Mandei fazê uma casa

Bem do gosto de vancê

Mais quá!… Vancê é marvada

Começô logo a dizê

 

Que a casa tinha defeito

Im veis de me agradecê!

Quis fazê vancê feliz

Quis le dá tod’os prazê

E nenhum dos seus capricho

Eu dexei de atendê

Esperando que um afeto

Eu viesse a mercê

Mais quá!… Por tudo que eu faço

Só pelo amor de vancê

Vancê paga cum despreso

Im veis de me agradecê!

Por nunca ter cunsiguido

Sê amado por vancê

Eu jé tenho maginado

Inté… desaparecê!!!

Será mais um sacrifício

Que eu ainda vô fazê!

Mais, se um dia eu for s’imbora

Só pra le sastifazê

Vancê tarveis se lastime

Im veis de me agradecê!

Pregado no poste: “O Brasil acabou, gente!”

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