Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2009Crônicas

Caro Abílio,

Doeu. Desde que foi inaugurado aí na Rua Abolição, em Campinas, dona Rose Marie Afonso Madeira, conterrânea do seo Valentim dos Santos Diniz, só comprava no Supermercado Extra, filhote do Pão de Açúcar e ‘neto’ do Sirva-se, meu vizinho na Brigadeiro Luís Antônio com Rua Batatais, em São Paulo. O Sirva-se tinha na porta prateada o mais belo perfil desenhado do Pão de Açúcar.

Nossa! Era uma extensão da casa da gente. As balconistas conheciam a família inteira e os filhos da freguesia chamavam cada uma pelo nome. Simpaticíssimas. Garanto que nenhuma passou por “treinamento de recursos humanos” para saber como se trata a clientela. Comércio é educação e conhecimento. Basta. Quando um dos meus filhos precisava atravessar a Brigadeiro, a gente nem se preocupava, porque uma delas ou o guarda acudia. Como dona Rose foi freguesa desde a abertura do Extra Abolição, nós éramos fregueses desde a inauguração da primeira loja do Pão de Açúcar nessa avenida.

Inacreditável que uma empresa que nasceu assim, com a gentileza da santa terrinha, faça o que fez com uma conterrânea como a dona Rose. Domingo, duas e pouco, ela fez uma compra grande e quando foi pagar, não aceitaram cheque, exigiram feitura de cadastro e atestado de residência. Coisa de louco:

— Mas eu moro aqui ao lado e compro desde a inauguração!

— Sem atestado de residência, nada feito.

— Tá bem, eu faço o cadastro.

— Mas falta garantia do banco.

— Eu tenho, está aqui. Vai insistir na residência? Chame o gerente.

— Ele não está.

— Eu chamo a polícia!

O soldado mandou chamar o gerente. O dito cujo veio.

— Ah! Para a polícia ele está, para o freguês, não?

O gerente mandou aceitar o cheque sem o atestado.

No saguão, o desfecho.

— Cadê meu carrinho?

— Foi recolhido e a senhora terá de comprar tudo de novo…

— Sabe quando!?

Enquanto isso, uma quadrilha invadia o supermercado, fugia com um carrinho de compras e o gerente preocupado com o atestado de residência de sua mais antiga freguesa.

Caro Abílio, dona Rose disse que só volta a comprar lá se você assumir a gerência. (Cá entre nós, ela chamou você de “bonitão”.)

Pregado no poste: “Extra! Extra! Quem não mora não compra no Extra?”

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