Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2009Crônicas

Gato por coelho

Para quem pensa em comer bacalhoada na Sexta feira da Paixão e acha que o bacalhau está caro, como sempre, há uma saída: quando ele começou a ficar caro como nunca, minha mãe passou a substitui-lo por hipoglós. É só dizer que a receita desandou na assadeira e ninguém perceberá a troca de peixe por pomada.

Assim também foi com a cereja, hoje, chuchu liofilizado. Marshmellow? Suspiro cru… Basta trocar a butique de importados pelas melhores farmácias, mercearias e quitandas do ramo. Somente uma questão de bairro. O que não havia no Mercadão se achava na Seleta, ali na Barão de Jaguara. No lugar de frutas cristalizadas, pão com mamão verde, cenoura e chuchu em quadradinhos e cristalizados. Se não tem Prosecco Mioneto, vai cidra; em vez de Aloxe-Corton Villages, Chapinha. Para a criançada, Coca-cola ou tubaína, tanto faz – só não pode é misturar as duas.

Quem não tem polvo caça com lula, mas se não tivesse o povo cassava o Lulla. Para que gorgonzola se o chulé daquele seu tio estivador sai de graça? Caviar uma ova! Útero de galinha. Foie Grass? Com tanta galinha e perua por aí… Para os educados, petit gateau e nougat (Cuidado! Nugget é graxa para sapato), mas rapadura, dadinho e paçoquinha são a solução!

A cenoura você deixe para o coelhinho que virá domingo botando ovo de chocolate para os seus filhos.

Agora, atenção para a logística da casa em tempos de crise. Material de limpeza: sabão Campeiro em pedaço; lysoform bruto ou creolina; álcool 54º (92º é muito caro, guarde para pôr no carro); água sanitária Superglobo (Super Record, só com dízimo); bom-bril; sapólio em pedra (Radium, nem pensar); anil Colmann; óleo de peroba (guarde um pouquinho para após a barba); vassoura (com cabo, se não dá dor nos quartos), pano de chão (nem pense naquela bandeira velha do Guarani); flanela (flunele) e espanador (de cabeça).

Para o banho, antes do almoço: sabonete cinta azul; papel higiênico Tico-tico (daqueles que a gente faz “Aaaiii!!!); talco Ross; água da matriz (a de colônia acabou); algodão doce, mesmo; acetona preta; Modess (usado, não; tenha dó!), água velva (guardou o óleo de peroba?); gilete (em Campinas ainda tem e bem baratinho); creme dental (melhor bicarbonato na ponta do palito); escova de dente das visitas.

Pó compacto, batom, lápis de olho, creme Rugol, pomada Minâncora, rouge, sombra e perfume flor de maça, deixe para o Natal.

Pregado no poste: “O Guarani foi sumindo… sumindo… sumiu!”

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