Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2007Crônicas

Carnaval de asneiras

Imagine: existe uma estação de rádio localizada na cidade do Rio de Janeiro, chamada ‘Rádio Rio de Janeiro’, que não pode tocar músicas de Carnaval. Só porque ela é de uma seita religiosa que não gosta da folia. Justo no Rio de Janeiro? É como aquela estação de televisão localizada no Brasil, que exibiu um homem chutando a imagem de Nossa Senhora no dia de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil. Essa mesma estação vetou aparecer na tela a estátua do Cristo Redentor. E em Santa Rita do Passa Quatro, terra do magistral Zequinha de Abreu? A rádio lá se chamava Francisco Alves… Agora já leva o nome do criador do Tico-tico no Fubá (ou “Taico-taico no fúba”), como pronunciava Walt Disney.

Não se espante, não. Aqui em Campinas, na noite em que morreu o mundialmente famoso oftalmologista doutor Penido Burnier, uma das referências desta nossa terra perante a Humanidade, o locutor do horário, numa rádio campineira, reagiu: “No meu programa, ninguém vai dar nota de falecimento, não!”. Nada demais. Na outrora poderosa Rádio Tupi de São Paulo, o popularíssimo apresentador Barros de Alencar impediu que se noticiasse em edição extraordinária a morte do ditador chinês Mao Tse-tung. Não é à toa que a rádio estourou.

Pensando bem, o Carnaval também estourou. Há exatamente 38 anos não se faz uma música marcante. Foi ‘Máscara Negra’, do Zé Ketti. Um dos versos até virou manifestação do inconsciente dos políticos, quando pensam em seus eleitores: “Mais de mil palhaços no salão!”.

O Carnaval não sabe mais fazer música, só fantasia. Não visa mais os ouvidos (e o cérebro) do público. Só aos olhos e aos instintos. Fazem sucesso as revistas de besteiras e fofocas em vez das letras e melodias. Um amigo, já chegando aos seus oitenta carnavais, observou bem: “Você lê essas revistas hoje e guarda. Daí a seis meses, metade dos casais estão separados e metade dos fotografados está na cadeia ou fugindo da polícia. A outra metade mora fora do Brasil, que ninguém é de ferro. Agora, até dupla sertaneja mora no estrangeiro. Você acha que Miami inspira alguém a cantar Luar do Sertão? Nem no Rancho Fundo, bem pra lá do fim do mundo. Até o Trem das onze parou de passar…”.

(Juro que foi sem querer: em vez de ‘Rancho fundo’, escrevi ‘Racho fundo’. Aquela santa leu e me sapecou as ‘orêia’: “Que baixaria é essa aí!?”.)

Carnaval era divertido. Aqui em Campinas, um daqueles machões indignados com a fama da cidade, de andar com chicote no carro para agredir as assumidas no meio da noite, disse à mulher que ia pescar no Rio Paraná, durante o Carnaval. Na quinta, depois da Quarta-feira de Cinzas, a revista ‘O Cruzeiro’ já estava nas bancas. E trazia a fotografia do nosso machão pescador no baile das bonecas no Rio de Janeiro, fantasiado de “Libélula Deslumbrada”. O casamento acabou e ele sumiu da cidade. Quer saber o nome da ‘louca’? Pergunte ao Iberê Godoy. Eu não me lembro mais.

Aconteceu também com um redator desta na nossa ilustre casa de trabalho, muito antigamente. Em pleno Carnaval, disse à patroa que ficaria de plantão até tarde. Foi pular no Camões (que os maldosos chamavam de “Esporte Clube Varizes”), caiu e quebrou o pé. Chegou em casa de muleta e disse à coitada que o Florêncio, nosso querido ascensorista, saíra mais cedo e levou a chave do elevador. Teve de descer as escadas, caiu e…

As pernas estão para o ar. Semana passada, a televisão do Brasil mostrou um maestro deitado numa rede na floresta amazônica. Ele veio da Romênia e, naquela posição, regia Verdi para uma tribo de índios. O que tem a ver o cós com as calças, meu Deus? E Carlos Gomes, que viu Ceci beijar Peri, nem foi lembrado. Também, alguém ainda se lembra do Guarani? Só a Voz do Brasil, porque do time de futebol…

Hoje, Stanislaw Ponte Preta faria “O samba do índio doido”.

Pregado no poste: “Campinas é samba no pé ou ponta-pé no samba?”

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