Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2007Crônicas

Não fuja!

Aconteceu na cidade de Assis. Fica na Grande Lutécia, berço daquela Zélia Cardoso de Mello. Ela não conta para ninguém que é lutecense nem os lutecenses fazem questão. Mas ela veio a furo num bairro chamado Bunka, que existe até hoje e. por isso, jamais será tombado pelo patrimônio histórico.

Gente orgulhosa e importante: tanto que Lutécia é o antigo nome de Paris, enquanto Asterix e Obelix ali viveram (na Gália, zombando dos romanos, não na Alta Sorocabana).

Assis tem time feminino de futebol de salão, shopping, boliche, bela Catedral, uns 15 hotéis, quatro jornais, cinco estações de rádio e quatro de televisão, três museus, seis hospitais, aeroporto, pesque e pague…. Abriga três estações ecológicas – uma delas é do nosso Instituto Agronômico.

Ali há uma respeitável Faculdade de Ciências e Letras da Universidade Estadual Paulista, a Unesp; três centros universitários particulares, treze escolas estaduais, umas quarenta municipais e onze particulares, além de trinta restaurantes, bares, pizzarias, lanchonetes e quejandos (Ufa! Consegui escrever ‘quejandos’ numa crônica.)

Misturei bares e escolas no mesmo parágrafo porque, embora incompatíveis, o cenário é um bar e a personagem, uma bondosa, ilustríssima e veneranda professora, daquelas que há muito Deus não faz. Quem dela foi aluno – ou sobrinho – jamais se esquece.

Tudo aconteceu há meio século, e Assis, claro, ainda não trepidava. Era mais uma das famosas comunidades pacatas da longínqua e laboriosa ‘interlândia’ paulista. Mas o bar é o mesmo “Bar do Boiadeiro”, na mesma esquina da Rui Barbosa com a Capitão Francisco Rodrigues Garcia. Bar só de homem, como o Giovanetti d’antanho. Nem toalete feminino tinha. (Você acha que em bar chamado ‘Boiadeiro’, homem faz toalete?).

Tantos homens, que os exemplares do belo sexo nem passavam pela esquina. Mas foi justo ali que aquela professora – mais respeitada do que o bispo – vinha de sombrinha para fugir do sol, escorregou, estatelou na calçada, calçolas à mostra, e foi socorrida pelo homens. Já chorava de vergonha quando foi levada para os fundos do estabelecimento, nos braços dos dois que cheiravam menos a bebida. Um deles, para consolar, falou o que não devia:

— Isso não é nada mestra! Pior aconteceu com uma velha, que caiu da charrete, rasgou o vestido e se acabou pelada no chão.

— Buáááá! Buáááá! Aquela velha também sou eu… Buááá!

Pregado no poste: “Mulher que foge de homem acaba pelada na calçada”

 

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