Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2010Crônicas

Campineiro é assim mesmo

Chegam histórias como as daquele coronelão simpático das bandas de Poços de Caldas, retratado num livro do jornalista Sebastião Nascimento como “Um coronel na Alta Mojiana”. Rico que dava dó, pouco se lixava para a elegância. Calças largas, paletó também e camisa branca – como manda o figurino, barras, mangas e punhos puídos. Na praça do Palace Cassino, todos o reverenciavam, mas o filho se indignava com a estampa andrajosa. Ele desdenhava: “Liga, não. Aqui todos me conhecem…”

Em viagem a São Paulo, na estação da Luz, o filho implicou de novo com o terno do pai. A resposta foi quase igual: “Liga, não. Aqui ninguém me conhece…”

Você se lembra de que conversamos aqui sobre o ponte-pretano fervoroso Afrânio Affonso Ferreira, que vinha dos EUA, onde morava, só para ver jogo da “Macaca” e voltava para St. Paul, Michigan, no mesmo dia? Agora, o Roberto de Souza, que deve ter sido muito amigo do Dr. Afrânio, é quem conta. Saboreie:

“Era agrônomo, mas brincava que entre um pé de banana e um de laranja, ficava em dúvida. Também não ligava para roupa: usava barbante para ‘segurar’ as calças. Em Caracas, no tempo das ligações difíceis, falava-se somente da recepção. Lembrou-se de algo importante às sete 7 da manhã. Desceu de capa, com um lado do rosto barbeado e o outro ainda ensaboado. Em Paris, numa estação de trens, foi aos armários de bagagens, pegou sua mala e se agachou. Nesse instante estourou uma bomba num armário próximo. Como estava agachado, só se feriu levemente. A bomba era da Organização do Exército Secreto, contrária à libertação da Argélia.

Uma vez, mandou comprar passagem e avisou nosso distribuidor na Argentina que estava indo até lá (Eymasa-Equipos Y Materiales), encontrar-se com o dono, um certo Sr. Roca. Saiu de Viracopos, chegou a Buenos Aires no fim da tarde. Foi para o hotel e depois encontrou-se com o Roca. Conversaram, jantaram, até que o Dr. Afrânio, olhando a hora (em qualquer lugar, porque nunca usou relógio, mas nunca perdeu hora), disse:

— Vamos, preciso levantar cedo para ir embora.

Roca espantou-se:

— Não vamos trabalhar, visitar clientes? O que veio fazer aqui?

— Jantar com você…

Nas reuniões com distribuidores, sempre ia aos jantares. Mas nunca o vimos sair. Sumia, sem se despedir.”.

Pregado no poste: “Em dez dias a posse do velho governo”

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