Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

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Balança!

Com quarenta anos de atraso, entramos na Era Espacial. Pela porta dos fundos, como quem entra num quarto escuro, de despejo, às cegas, desconfiado, sem saber no que vai dar. O foguete será lançado “qualquer dia entre 23 de outubro e 10 de novembro”, anunciam os responsáveis pela “façanha”. Só falta dizer que o local de lançamento se situa “num ponto da Terra entre os oceanos Pacífico e Atlântico”. E salve-se quem puder. Vamo nóis!

Pode ser que, a esta hora, o bicho já tenha partido. Mas nem o presidente da República sabia. Na manhã de quarta-feira, em discurso “patético-ufanista”, em seu programa de rádio, ele dizia: “O Brasil dará nos próximos dias um passo importante na conquista espacial…” À tarde, o Ministério da Aeronáutica chutava o balde, com a circulação desta notícia: “Foi adotada uma política de segregação no primeiro lançamento do satélite brasileiro. Fica proibida a presença da imprensa, de convidados e até mesmo de autoridades civis no evento. Os militares deverão bloquear o acesso a áreas vizinhas da base de Alcântara duas horas antes do início da operação. Também será impedido o tráfego aéreo e marítimo na região. A Aeronáutica pediu a exclusão da lista de convidados, alegando questões de segurança. Até o presidente Fernando Henrique Cardoso teve sua visita ao local antecipada e foi desaconselhada sua presença no dia do lançamento. O clima é tenso no centro espacial”. Sai debaixo.

Nosso Santos Dumont, celebrado dia 23 pela Semana da Asa, deve estar encafifado. “Mas é tão fácil!”, estou ouvindo ele dizer. “Fácil para ele, que é gênio, pai da aviação e estudou no Culto à Ciência”, dizem lá na base da terra do Zé Sarney. Também, um país que teve Zé Sarney como presidente não pode almejar muita coisa, muito menos lançar um foguete.

Quarenta anos depois que os russos lançaram o Sputinik, a 4 de outubro de 1957, 36 anos após Gagarin tripular a primeira nave espacial e há 28 anos do pouso na Lua, o lançamento de um simples foguete no Brasil dá tremedeira. De fato, o fracasso de certas experiências pioneiras fica na história. O Titanic naufragou espetacularmente. O dirigível Hidenburg pegou fogo na hora do pouso. O primeiro foguete americano, o Vanguard, explodiu a um metro do chão, a 5 de dezembro de 1957. Aqui em Campinas, mesmo: essa caravela que singra as águas da Lagoa do Taquaral encalhou no dia da inauguração. Foi um fiasco.

O sonho do Brasil entrar em órbita até virou piada. Ronald Golias foi “O homem do Sputinik”, numa chanchada inesquecível, ao lado da Norma Benguel, a nossa Brigite Bardot. Há 30 anos, fizeram uma marchinha para o Carnaval, de letra irreverente e duplo sentido, que diz: “O Brasil vai lançar foguete; Cuba também vai lançar… Cuba, lança, Cuba! Eu quero ver, Cuba lançar …” Perto do que escreviam os Mamonas Assassinas, isso parece até hino religioso.

A última é consultar a opinião pública. Quem você colocaria a bordo do foguete brasileiro? Alguns sugeriram o time do Corinthians, aquele que tem um Santana (Joel), onze Bestas e só falta o Gol… Eu colocaria junto o time do Guarani, com a nave tripulada pelo Beto Zini. Passagens só de ida, por favor.

PS: Pretinha, eu quero entrar para o MTST. Como bugrino, desejo organizar o “Movimento dos Torcedores Sem-Time”. Você me ensina?

 

 

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