Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2010Crônicas

As netas do ‘Bebê Johnson’

Cris e “Cauína” são as filhas que não tivemos e hoje também orgulham nossa família, como orgulhariam, muito mais, até a família real inglesa. Foram donas do “Fax”, quando esse aparelho sucessor do telex e precursor da internet, era novidade e batizava o collie delas, a raça de Lassie, rival do Rin Tin Tin nos seriados dos anos 60s. Presente dos pais de verdade.

As duas nasceram e cresceram na nossa ruazinha em São Paulo, junto com nossos filhos, nas piscinas e na escolinha do clube Pinheiros. Nossa casa era a casa delas e vice-versa – tempos em que a amizade fazia da casa de um a casa do outro.  Cris é Cristina, claro, mas “Cauína”, se ninguém contar, será só a Carol, como a chamam os de fora do clã.

Agora, vejam as voltas que o mundo dá. Suprema ventura: elas são netas de Regynaldo Zavaglia, sinônimo de um dos melhores cafés que já saboreei, “torrado e moído caprichosamente”. Em São Carlos, sua terra, é tão venerado quanto o padroeiro da Capital do Clima, talvez porque em torno dele jamais aconteceu tempo feio. E tão amado por sua Ana Maria que, juntos durante 68 anos, um foi sempre a melhor companhia do outro. Aos 16 anos, lecionava inglês; aos 24, já era dentista pela hoje Unesp de Araraquara.

Irriquieto.

Foi para Goiás ser sócio de frigorífico e de uma mina de grafite. Não podia ser diferente: uma de suas filhas, Ana Maria como a mãe, é pilota, física e matemática. Outra, Sílvia Helena Zavaglia Coelho, campineira adotiva, é mãe da campineirinha Patrícia, que na semana passada recebeu o avô ao lado de Deus – juro que com uma xícara de café Zavaglia, fumegante, porque Ele não deixa por menos, quando se trata de cativar os filhos.

Regynaldo nasceu em 1928. Era tão, tão, fofo, que ganhou o célebre concurso de “Bebê Johnson”, aquele que premiava as criancinhas mais robustas, ganhava todo o enxoval até começar a andar e tinha a foto estampada nas embalagens de fraldas. Um garoto-propaganda precoce.

Tão grato ficou à Johnson, que retribuiu a multinacional com o talento daquelas suas duas netas. Cauína, a mais nova, já está lá há mais tempo. Cobiçada, Cris topou o desafio, deixou o bureau da Unilever na Bolsa de Valores de Nova York e assumiu a diretoria financeira da Johnson na América Latina, com direito a viver no Brasil. Pela primeira vez, essa múlti dedicada principalmente às crianças aceita irmãs em sua administração: nada resiste à competência.

Graças à Johnson, a família está reunida de novo. E nós, prontos para pajear as duas nos bailes do pijama em Sertãozinho. Criança tem cada gosto, digo, cada avô…

Pregado no poste: “Por que criança não cresce?”

 

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