Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2004Crônicas

Alô, alô, marceneiro

Aconteceu na República de Sertãozinho. Depois que a Telefônica chegou, os sertanezinos ficaram na mão. Reclamar da qualidade (?!) dos serviços, só em Araraquara, a 100 quilômetros de distância. Fecharam o serviço de atendimento ao público – só ficou o de cobrança… Para os sertanezinos, conhecidos como “filhos do fogo”, depender de outra cidade é o máximo da humilhação. Justo eles, orgulhosos de ostentar uma renda per capita das mais altas do País e um índice de desemprego dos mais baixos. São máquinas de trabalhar e vivem sob o lema “Quando nóis qué, nóis num pede; nóis faiz.”

No mês passado, o telefone do advogado Clóvis Vanzella ficou mudo. Ele reclamou em Araraquara. Abriram dez ordens de serviço, prometendo consertar, e dez dias se passaram, com o telefone em silêncio. (Insisto na palavra “serviço”, para ver se a Telefônica aprende o que é isso.).

Pouco antes, os celulares da cidade também entraram em pane. Quando alguém ligava, ouvia: “Este número de telefone não existe.”. As vítimas reclamavam em Araraquara. A Telefônica acusava a Telesp Celular, que acusava a Telefônica. Briga igual, nem no Jardim Itatinga. De repente, os números dos celulares voltaram a “existir” e até hoje ninguém sabe quem foi a culpada. É capaz que as duas se juntem para culpar o povo.

Voltando ao Clóvis. Alguém viu um homem num poste mexendo nas linhas de telefone e correu para avisá-lo: “Tem um cara ali na esquina, em cima de uma escada, mexendo nos fios; será que ele não conserta o seu telefone, também?”. A vítima correu até ele e foi bem recebida:

— Ôi, seu Cróvis, o senhor tá bão?.

— Uai, eu estou conhecendo você…

— Craro! Fui eu que instalei os armários na cozinha da sua casa no começo do ano; o senhor não se lembra? Eu era auxiliar de marceneiro.

— E agora você trabalha para a Telefônica? O meu telefone está pifado há dez dias, dá pra você dar uma olhada, lá em casa?

— Craro! É só eu acabar aqui, passo lá. Pode deixar.

Quando seu telefone pifar, faça como aquela gente. Chame o marceneiro, o amolador de facas, o vendedor de cachorro quente, o carteiro, o vendedor de carnê do Baú., até um gigolô… Eles sabem e fazem na hora. Não esperam acontecer.

Pregado no poste: “Maradona? Que droga!”

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