Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2004Crônicas

Alô, é da colônia?

“Thanks for using Telefonica. The number whose you dialed has been changed. Please, call again, adding number three before the number used to call.”

Pensei que estivesse na Inglaterra, nos Estados Unidos ou em uma de suas colônias espalhadas pelo resto mundo, onde já não se fala mais a língua nativa. (“Resto do mundo”, porque o mundo, para eles, já se divide em EUA e o “resto”.) Aquela mensagem, parecia ser transmitida na voz de uma fanhosa drag queen texana, e começou a ser divulgada segunda-feira passada, para todos que tentassem ligar para Campinas e não sabiam que é preciso discar o algarismo “3”, antes do número desejado.

Desliguei e tentei novamente falar aqui com o nosso Correio. Outra vez a drag queen me atendeu. Na terceira vez, ela de novo. Liguei para outro lugar – a casa da minha irmã. Que nada, só fui recebido pela mesma voz em três tentativas. Na quarta ligação para o jornal, deu para ouvir um rabicho: “… novamente. Obrigada.”. Liguei pela quinta vez e, depois da drag queen, uma voz falando o idioma nativo da colônia, muito educada, avisou: “Telefonica informa: o número deste telefone mudou. Acrescente o algarismo 3, antes do número do telefone desejado. Tente novamente. Obrigada.”

Hoje já nem sei mais se essa Telefonica é portuguesa, espanhola, italiana, corintiana, americana ou uma pura baiana. Mas conseguiu a máxima proeza de, no Brasil, prestar um serviço pior do que o da estatal que existia no lugar dela. Quando era espanhola, minha comadre Sônia Racy, jornalista do Estadão, recebeu uma informação via fax da tal Telefonica, escrita em espanhol. (E olha que o domínio espanhol terminou em 1640, com a restauração do trono português.). Se ela for portuguesa, não custa nada colocar aquela mensagem na voz de uma cantora lusitana, em ritmo de fado. Ninguém precisaria de intérprete para entender.

Outra preocupação: será que ela vai cobrar de mim aquelas dez ligações em que a drag queen me atendeu e eu não entendi bulhufas? Afinal, Maria Inês Dolci, do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), diz que recebe uma reclamação a cada 15 minutos contra a conduta das telefônicas.

Pregado no poste: “Calma, que o Brasil não é nosso.”

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