Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2007Crônicas

Abaixo-assinado

Seo doutor Hélio, por favor, receba-as com atenção e respeito. Elas merecem. Diz o repórter Fábio Gallacci que muitas garotas de programa estão dispostas a protestar diante da Prefeitura, pela reabertura dos hotéis das adjacências da Estação Cultura.

O cinismo com que o poder trata essas meninas desde que o mundo é mundo só foi rompido uma vez no Brasil. Ousadia do então prefeito Orestes Quércia, que até virou capa da revista Time, com direito a foto da vereadora ‘tia’ Clara de Oliveira, ornada com uma flor de lótus. Como não têm argumentos legais para removê-las, fiscais daqui e de toda parte usam subterfúgios: os prédios dos hotéis ora não tem habite-se ora não têm alvará; o uso está desvirtuado (Absurdo: para provar o uso desvirtuado, o fiscal passou a noite debaixo da cama?) ou, cúmulo dos cúmulos: as hóspedes não têm atestado de saúde! Ora, desde quando se pede atestado de saúde para hospedes de hotéis?

Seo doutor Hélio, reabrir os hotéis pode não ser a solução; talvez o melhor seja ouvi-las para conhecer suas idéias. No fim dos anos 60s, a polícia as perseguia com violência, naquela mesma região – claro, em todo lugar é assim: estação de trem, de ônibus, de barcas, portos, aeroportos… (Aeroportos! Grande idéia! E elas ganharam um bairro, o Jardim Itatinga, pertinho de Viracopos, com toda a dignidade: posto de saúde, creche, paróquia…). Quarenta anos depois, a situação exige outra criatividade, seo doutor. Ponha os miolos para funcionar.

Ou o senhor acha que aquele território retomará a velha paisagem, relembrada pelo Renato Otranto e pelo Paulo Clímaco, campineiro daquelas bandas desde 1920?

Na Saldanha Marinho, as marca eram o bonde 9; a casa do Horácio Antônio da Costa, engenheiro da Mogiana; o Café Motta, do seo Hamilton e da dona Zaides; o Hotel Mato Grosso (um dos pioneiros…) e o bebedouro dos burros dos carroceiros.

Na Visconde, a Escola Alemã.

Na Praça Floriano Peixoto, a fábrica, oficina e loja de guarda-chuvas Tamoio; a Feira dos Presentes; o Roque de Marco; o Hotel Grigoletti (mais um), e o Jaça, barbeiro do Sílvio Santos, que começou na barbearia da estação.

Na Ferreira Penteado, o Palácio dos Azulejos e o quartel dos bombeiros.

A Costa Aguiar, os atacadistas, a Sears, Casa Regente, Restaurante Marreco, bancos do Brasil e Segurança, do Palácio das Lonas (do seo Firmino Sanches, pai do Bernardo Caro), a Casa Bongo e a Agropecuária Irmãos Meirelles.

Pregado no poste: “Compareça!”

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