Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2007Crônicas

A última do Treco

(Tem gente votando até no Cemitério da Saudade como uma das maravilhas de Campinas…)

Até nisso ele apronta. Quem pensa que o Treco foi ao Céu acender barbantinho fidido, enganou-se. Ele continua por aí. Pois não passa dia, sem a lembrança de uma molecagem, uma sutileza ou uma brincadeira bem brasileira desse ‘Chaplin campineiro”. Tão Chaplin, que me lembrou Carlitos quando nosso diretor Telêmaco entrou na classe, já perguntando:

— Quem é Lineu?

—  ????

Silêncio. Paulo Barnabé, bem ao lado, na turma do fundão, arriscou:

— Trecão! Ô Trecão! Acho que é com você?

— Lineu? Eu? Ah é! Lineu sou eu!

— O senhor é Lineu, seo Treco?

É o apelido que mais pegou na cidade. Nem ele se lembra do próprio nome. Bem que a mãe sugeriu colocar o apelido em vez do nome, no convite do casamento do Treco com a Mara.

Não é brincadeira. O primeiro super-herói da TV brasileira foi o Capitão 7, conhecido, como o Treco, até na clausura das irmãs carmelitas. Eis que o Treco ganhou um prêmio e o Capitão 7 foi entregar na casa dele, ainda na Rua Antônio Lobo. Estava na porta da casa, recebendo o Capitão, encarnado pelo ator Ayres Campos. Do outro lado da rua, na frente da morada do advogado Zedos Reis, um menino perguntou ao pai: “Quem é aquele cara ao lado do Treco?”

Pois foi naqueles tempos, ainda pudicos, que tudo se deu. Falar palavras de baixo ou alto calão em público dava cadeia. Maior escândalo foi o palhaço Carequinha cantar no rádio “O bom menino não faz xixi na cama”. Cruzes! Ele falou ‘xixi’, no rádio!!! Nem no teatro de rebolado arriscavam. As palavras tinham duplo sentido, porque se tivessem um só, era cana sem apelação. Então, ouviam-se duas vedetes falando com o galã: “Vá lá em casa comer noz…” As peças do produtor e diretor Valter Pinto se chamavam: “Toco cru pegando fogo”; “Tem nheco-nheco na lua”. Um conjunto fez sucesso rápido com “Procurando tu”. Rápido, porque a censura cassou a música e caçou os músicos.

Naquela tarde, o professor Stucchi, de Educação Física, cismou de mandar a turma fazer exercício na barra. Mas alertou: “Só pode fazer quem estiver de suspensório atlético por baixo”. Ninguém entendeu nada. Até me perguntaram o que era aquilo. Saí de fininho: “Não sei. Nem sou atleticano…”

O Treco matou a charada e esclareceu tudo, com seu jeito moleque e atrevido:

— Professor, isso que o senhor está falando é saqueira, né?

Pregado no poste: “Parada Gay estava cheia de feministas com H maiúsculo”

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *