Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2005Crônicas

Aaaaiiii!!!

Veja como se davam as notícias antigamente.

Hoje, a repórter Maria Teresa Costa, a terror dos medíocres e padroeira do patrimônio histórico campineiro, seria trucidada aos pés da estátua de dom Néri, se escrevesse assim sobre uma inimaginável demolição da nossa Catedral:

“Velha Matriz

Ruiu hontem, sob a acção civilisadora (!!!) da picareta, a ultima parede do velho templo desta cidade. Restam apenas de pé os grossos esteios de aroeira, que, por fim, cederão espaço ao verdejante parque que avança e assoberba a vasta Praça 15 de Novembro.”. Saiu assim no jornal “A Cidade” de Ribeirão Preto, há cem anos, e não se sabe se o redator sobreviveu à “ação civilisadora da picareta”…

O (!!!) é meu. E só será “inimaginável” a demolição da nossa Catedral, se aquela mulher não se aventurar a uma volta aos Jequitibás. Do jeito que ela deixou a Treze de Maio… “Dor de barriga não dá uma vez só, cuidado!”, dizia a avó da minha irmã.

Mais esta, no mesmo dia: “Está em festa o lar do sr. Alfredo Marques, gerente da Fabrica de gelo ‘Santa Maria’, porque foi enflorado com o nascimento de um menino.”. “Enflorado”!? Quer dizer “alindado”, ensina o Aurélio. Hei, querido chefe Marcelo Pereira, o que você faria se alguém escrevesse “enflorado” numa manchete de página? Num jornalão de São Paulo já saiu “Padre obra milagre”.

Há quase 200 anos era pior. Olhe só o que o Orlandinho Ometto descobriu no Instituto Histórico das Alagoas e despejou aqui, como fez ontem, com os reclames de quarent’anos atrás. Não ria da sentença do juiz Manoel F. dos Santos, exarada (!!!) na Vila de Porto da Folha, interior de Sergipe, em outubro de 1833:

“O adjunto do promotor público, representando contra Manoel Duda, porque no dia 11 do mês de Nossa Senhora Sant’Ana, quando a mulher do Xico Bento ia para a fonte, já perto dela, o supracitado cabra, que estava de tocaia em uma moita de mato, sahiu della de supetão e fez proposta a dita mulher, por quem queria para coisa que não se pode trazer a lume. E como ella se recuzasse, o dito cabra abrafolou-se dela, deitou-a no chão, deixando as encomendas della de fora e ao Deus dará.

Elle não conseguiu matrimonio porque ella gritou e veio em amparo della Nocreto Correia e Brederodes Barbosa, que prenderam o cujo em flagrante.

Dizem as leis que duas testemunhas que assistam a qualquer naufrágio do sucesso faz prova.

Considero:

— Que o cabra Manoel Duda agrediu a mulher do Xico Bento para conxambrar com ella e fazer chumbregâncias, coisas que só o marido della competia conxambrar, porque são casados pelo regime da Santa Igreja Catholica Romana;

— Que o cabra Manoel Duda é um suplicante debochado que nunca soube respeitar as famílias de suas vizinhas, tanto que quis também fazer conxanbranas com a Quitéria e Clarinha, moças donzellas;

— Que Manoel Duda é sujeito perigoso e que se não tiver uma cousa que atenue a perigança delle, amanhan está metendo medo até nos homens.

Condeno:

— O cabra Manoel Duda pelo malefício que fez à mulher do Xico Bento, a ser CAPADO, capadura que deverá ser feita a MACETE (!!!). A execução desta peça deverá ser feita na cadeia desta Villa. Nomeio o carrasco o carcereiro.

Cumpra-se e apreguem-se editais nos lugares públicos.

Manoel F. dos Santos, Juiz de Direito da Villa de Porto da Folha (Sergipe), 15 de outubro de 1833.”

Pregado no poste: “Proteja suas encomendas!”

 

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