Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2003Crônicas

A andorinha de Haia

Pensa que só Ruy Barbosa foi para a Inglaterra ensinar Inglês ou só ele brilhou na Holanda? Depois da Águia de Haia, os holandeses estão extáticos com uma andorinha campineira que esfuzia aquela gente e está entre nós por poucos dias – uma revoada para buscar sol e voltar. Olha a trajetória dessa campineira de nome Liliana, da estirpe dos Ribeiro Sampaio de Melo Serrano. Eu não vou ser bobo de escrever, posto que sua mãe, Quinita, mestra na língua de Camões, me mandou este relato, que eu pedi:

“Liliana trabalhou muitos anos na Rigesa, em Valinhos, como secretária-executiva português-inglês. Surgiu uma oportunidade no Centro de Pesquisas Químicas, Biológicas e Agrícolas da Unicamp, ela optou pela nova função, num ambiente de trabalho que considerou mais promissor, e assumiu o cargo de assistente de direção do CBQBA. Ali conheceu um químico holandês, Willem van Kampen. Casaram-se. E Liliana partiu para a Holanda, com os três filhos que já tinha: Marcelo, Eduardo e Fernando.

Na Holanda, estudou com determinação a língua do país, por três ou quatro anos, e foi aprovada em exames oficiais, equivalentes ao nosso Segundo Grau, em língua holandesa. Com essa conquista, concorreu a um cargo de secretária holandês-inglês, na Solvay, importante indústria farmacêutica, onde já trabalhava seu marido. Concorreu com candidatas holandesas e ganhou. Mais tarde, vagou o cargo de secretária do presidente da Solvay. Ele próprio entrevistou secretárias de outras áreas da empresa e a Liliana ganhou a promoção.

Sua última proeza é o curso de mestrado em Cardiff, País de Gales, numa área que nem é a sua, pois formou-se na nossa Puccamp, em Letras. Terminou o primeiro ano desse mestrado e está vencendo. Por causa desse curso, foi promovida para a gerência. Fico admirada de ver sua determinação e tenacidade. Você me pergunta se ela sempre gostou de sol. Sempre adorou sol, sempre foi assim…”

Quando digo que campineiro é orgulhoso, é desses campineiros e campineiras que falo. Gente, também, como a Soninha Rubinsky, filha de outra mestra da nossa língua, Zilda querida, agora honrando a obra de compositores do mundo inteiro na Europa. Gente como Regina Estela Rossi, filha da dona Rosa, vida dedicada às crianças com síndrome de Down. Como Teresinha von Zuben, a que deu luz às crianças que aprenderam a enxergar a vida por olhos nos quais confiavam: os dela! Sílvia Brandalise e Sílvia Belucci, anjos da guarda de crianças com câncer e aids. Gente como você, construtora anônima da grandeza desta cidade – razão do nosso orgulho.

Pregado no poste: “Essa gente guerreira mostra ao mundo quanto vale uma campineira”

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *