Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2003Crônicas

Sedes Sapientiae! Lembra?

Há duas semanas, a Regina Trinca falou aqui do seu colégio “Victor Meirelles”. Hoje, o Luiz Carlos de Oliveira Arantes conta do seu tempo no Sedes Sapientiae. Quer rememorar sua escola? Mande suas “memórias”.

“Morei em Campinas até meus 15 anos, de 1952 a 1967 e, infelizmente, não pude estudar no ‘Culto à Ciência’. A solução foi o Ginásio e Escola Normal ‘Sedes Sapientiae’, na Rua Cândido Gomide, que funcionava debaixo das arquibancadas do campo do Mogiana.

Foi o primeiro ano de funcionamento da escola — e que escola! Os professores, todos recém-formados, eram de uma dedicação extrema e faziam do aprendizado de seus alunos ponto de honra: certa ocasião, a Maria Helena,  de Matemática, chorou em classe, porque um dos alunos não conseguia acompanhar o ritmo de aprendizado. Como se a culpada fosse ela.

Sim, era a única classe de primeiro ginasial, com 45 alunos. E nenhuma aula descambava para a bagunça que uma sala de 30 alunos de uma escola pública de hoje se tornou. Havia respeito pelos professores, pelo diretor, Waldyr Verinaud Mayer, pelos funcionários, pelos adultos…

Lá recebi toda a base para a vida adulta. Tudo o que aprendi naquele tempo devo àquele dedicado grupo de professores. Baltazar, falecido, um negro alto, elegante, que ensinava Francês, nos obrigando a fazer ‘beicinho’ – depois, oferecia carona a alguns alunos no seu Gordini: era um dos poucos privilegiados que possuíam carro. Cantávamos a ‘Marselhesa’ inteira no começo das aulas. A professora Enise, de Português… Que saudade! Cabelos curtíssimos para a época, talvez devido a um problema de saúde. A Maria Heloísa, de Geografia; Maria Cecília, de História; o Mezzacapa, de Educação Física… Ah! Tinha também aquela que era o sonho de todos os meninos. Ensinava Inglês. Bela mulher, morenaça (com todo respeito).

Era uma escola particular. Pobre, de muito respeito e dedicada à sua missão de ensinar. Um sacerdócio para os seus professores, grupo que complementava seu salário de funcionários da Estrada de Ferro Mogiana.

Meu pai pediu transferência para Santos e fui obrigado a trabalhar, estudando à noite, num colégio estadual. O ensino era uma droga. Repeti o 3º Científico e parei de estudar sem concluir o 2º Grau, o que só vim a fazer depois de casado, em 1974.

Como bancário, passei 26 anos de minha vida. Talvez, se tivesse a oportunidade de fazer o Científico no ‘Culto’, teria dado seqüência à minha vocação para a Medicina. Por ironia do destino, hoje trabalho no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, em Ribeirão Preto. Não como médico, meu grande sonho depois da professorinha de Inglês, mas como copeiro. É gratificante também cuidar, mesmo que só um pouquinho, da saúde das pessoas, dando-lhes alimento, atenção e carinho.”

Pregado no poste: “Políticos fazem o Brasil que fracassa”

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