Verdade é mentira
Em jornal a gente tem de esperar passar o 1º de Abril para ver se tudo o que aconteceu foi mentira ou verdade. Em rádio, TV, Internet, kitinet, patinete, chacrete, raquete e croquete, dá para saber na hora e alguém ouviu, viu, navegou, morou, passeou, rebolou, jogou ou comeu.
A primeira mentira foi minha: terminei a crônica daquele dia, prometendo para hoje uma aventura na boate El Cairo, mas o Renato Otranto pediu para esperar até sábado – quem sabe, ele se lembra do nome da dona. Enquanto isso, façam seu jogo senhores e adivinhem o que foi mentira ou verdade domingo passado:
Globo contrata Edir Macedo para transmitir a visita do Papa.
Lulla, ex-operário e ex-sindicalista da esquerda hidrófoba, reúne-se com Bush, presidente dos EUA e herdeiro de uma dinastia do Petróleo, para espalhar álcool pela América Latina. Tudo para alegrar os usineiros, que ele chamava de ‘senhores de engenho’ e hoje chama de ‘heróis’.
O presidente desembarca dizendo que não trouxe nada dos Estados Unidos, mas que nunca esteve tão perto de um acordo com o Bush – afinal, qual das duas afirmações e verdadeira?
Marcos Pontes é o primeiro astronauta do mundo preso a uma fila de… aeroporto. Tinha de ser brasileiro.
Campinas tem a segunda maior floresta urbana do Brasil, em compensação, tem o maior deserto teatral do mundo.
Mais de 2,5 mil achados e perdidos ‘aguardam’ donos nos Correios. Há de tudo: dentaduras, muletas, armários embutidos, camisinhas, coroas, cadeiras de rodas, batinas, vestidos de noiva, títulos de otário (digo, de eleitor), obra completa do Zé Sarney…
Criança só é criança se for consumidora.
Big Brother Brasil faz último paredão e ninguém chama o Fidel Castro.
“Os 12 Trabalhos” – ninguém vai ver filme com esse nome no Brasil.
Romário promete o ‘milésimo gol’, povo acredita e festeja.
Maradona prometeu largar as drogas, é internado e povo reza.
Em Congonhas, Karla Oliveira chora por não conseguir embarcar para amamentar seu bebê; na Bahia, a diretora da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Denise Abreu, se diverte em festa, com um charuto enfiado na… boca. Lulla, o queridinho dos intelectuais, continua governando e passeando com sua tchurma.
O País do inventor do avião apodrece: “otoridades” não controlam nem pouso nem decolagem.
Pregado no poste: “O Brasil não sai do chão.”