Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2005Crônicas

Sabe com quem está falando?

Velha pauta à espera de um repórter:

“Gentileza, cordialidade, educação, enfim, cidadania. Tudo isso é muito bonito de ouvir, mas na teoria, a prática é outra. O que se comete no dia a dia, mesmo, é a prepotência, a falta de educação, a exibição de força e poder, a truculência ou o que os cariocas chamam, desde os tempos de “Capital da República”, de ‘carteiraço’.

Pergunte aos trabalhadores humildes, obrigados a tratar com o público todos os dias, o que eles ouvem de má-criação, humilhação, falta de educação, e quanta “ação” se imaginar, de gente que pensa que é mais gente do que toda gente. Gente que pode tudo, que é tudo, menos inteligente.

A lista é grande. Vamos lá?

O guarda de trânsito, que multa ou só impede a passagem por alguma via interditada. Se o infrator for figurão, vai mostrar quem é quem ali ou, se for novo rico, oferecerá suborno.

O barnabé, do outro lado do guichê de uma repartição pública, deve passar o diabo para atender ao público, tão vítima como eles do serviço público exercido por servidor público vilipendiado.

O caixa do banco. Há correntista que pensa ser o caixa ou o gerente o culpado pela taxa de juro ou pelo prazo vencido.

O cobrador de ônibus, sem mais troco algum na caixa. Às vezes, o motorista, que passou o ponto, e fica sabendo o que foram todos os seus ancestrais.

O taxista, que sai e nunca sabe se volta.

A garota do caixa de supermercado, que não pode errar no preço, tem de ensacar a mercadoria, tem de mandar conferir o cheque, tem de ouvir ser chamada de lerda e, além de tudo, sorrir sempre e ainda agradecer.

O vendedor de passagem das empresas de ônibus da estação rodoviária diante dos que acham que são eles que ‘fazem’ o preço do bilhete. E ainda é acusado de ladrão.

As telefonistas de pequenas, médias e grandes empresas, xingadas de tudo quanto é nome por quem pensa que elas são as maiores executivas, mas estão ali apenas para servir, com toda educação e competência, mesmo que tenham de atender três ou quatro ao mesmo tempo.

O ascensorista: ainda há quem pense que ele pode fazer o elevador viajar mais rápido ou espera que o elevador tenha toalete a bordo. Alguns soltam cada impropério de matar ali dentro, antes de dar as costas e sair.

A faxineira, que se esqueceu de limpar um mísero cinzeiro, mas não é lembrada (nem elogiada), pela beleza que deixou a sala do patrão — para ele sujar tudo de novo.

A recepcionista de empresa aérea no balcão do aeroporto, ameaçada pelo seo fulano, o ilustre passageiro que quer embarcar na marra, nem que ela tenha de tirar um passageiro do vôo lotado ou fazer o avião voltar – alguns conseguem.

Os porteiros de cinema, de boate, de casas de shows encarregados de proibir a entrada sem ingresso, convite ou pulserinha – mas tem de engolir seco quando o diretor do lugar aparece e põe todo mundo pra dentro.

Atendentes de hospitais, médicos e enfermeiros plantonistas de pronto-socorro, pessoal da emergência. Pára-raios do povo desesperado com a bandalheira, que já chega com o filho num braço e o revólver na mão.

Enquanto isso, os políticos gastam o dinheiro da saúde, da educação, da habitação e da sua transpiração com o mensalão. Mas diante desses, ainda, o povo não aparece de revólver na mão.

Mais três ou quatro à sua escolha.

A idéia é dar uma página, com todas as historinhas mais ou menos do mesmo tamanho. Antes de apurar cada item, combinar com o Stefan ou Cavalcante, pois cada historinha tem de ser ilustrada por uma charge. À medida que for apurada, passar para ele, assim não haverá atraso.

Bom trabalho.”

Você não gostaria de ler uma reportagem abordando esse tema? Eu também.

Mural de recados: A senhora, ilustre ponte-pretana, que jurou pra mim que o primeiro uniforme da ‘macaca’ foi verde-e-branco, favor entrar em contato.

Pregado no poste: “Puts! O PT é tão ruim, que ressuscitou o Brizola!”

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