Quem foi?
No jornalismo, errar é desumano. Sei que não basta esta nossa conversa de hoje para corrigir o erro da semana passada. Mas reconhecer o erro é preciso. Principalmente quando se erra contra o desconhecido autor de uma façanha. A história daquela Copa do Mundo da Inglaterra me persegue, dá calafrios – nunca um acontecimento me fez errar tanto. Outros jornalistas também erraram muito com ela.
Na crônica “Tragédia no Largo do Rosário”, do dia 13, contei a incrível transmissão dos jogos do Brasil pelos cachos de alto-falantes espalhados pelo largo. Atrás de uma tela verde maior do que um outdoor com um campo desenhado, duas pessoas “exibiam” a partida com a luz de lanternas percorrendo o “gramado”, conforme o desenrolar dos lances. Sucesso, grande sacada do pessoal da rádio Educadora. Escrevi que os “artistas” foram os narradores Alfredo Orlando e Luciano do Valle. Deu branco. Se alguém me perguntasse sobre as equipes de esporte das radios paulistanas que estiveram naquele Mundial, eu me lembraria de todas: Tupi, Bandeirantes, Panamericana… Mas na hora de escrever a história, mudei o Alfredo e o Luciano de emissora e de data.
Mais: escrevi uma vez que a manchete sobre o jogo Brasil X Portugal, “Pelé, jogai por nós”, era do “Jornal da Tarde”. Errei: saiu no “Diário da Noite”, autoria do Odair Pimentel. Errei outra vez: foi do Edgard de Oliveira Barros.
Ambos estavam em Londres, pela equipe 1040 da Rádio Tupi de São Paulo. Errei outra vez, quando disse que a rádio-janela ficava em cima do Giovanetti. Udine Laserra, o antiquário que mostra novidades em feiras de antiguidades, avisa que aquela rádio, embrião das nossas Brasil e Cultura, falava da esquina da Glicério com Campos Salles, na sobreloja da casa Etam.
Um sósia de um dos heróis daquela copa, o ponta-esquerda Simões, da seleção de Portugal, apareceu em Campinas anos depois e enganou o Renato Otranto e o Juarez Soares. Foi visto pela primeira vez no “Brinco de Ouro”, fingindo ser médico e sobrinho da ministra Lourdes Pintassilgo, do ditador Salazar (como de fato o Simões era mesmo: ‘dotoire’ e sobrinho da dona ‘Lurde’). O elemento até abriu ‘consultório’ no Edifício Güernelli (onde ficava a Educadora) e tratou (curou!) o Renato Otranto de uma gripe, com homeopatia. O Juarez “China” Soarez veio a Campinas e entrevisotu o gajo para a Rádio Globo (era a cara do Simões!). O charlatão só foi descoberto porque bateu numa mulher em Carguatatuba e acabou preso.
Agora, o desafio: quais eram os dois que moviam as lanternas atrás daquele telão? Como homens justos, Alfredo e Luciano não querem ficar com os louros daquele grande momento do rádio de Campinas. E eu, deste meu canto, juro que nunca mais falo naquele Mundial.
Pregado no poste: “Só falta alguém dizer que nunca houve Copa na Inglaterra”