Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2004Crônicas

Quem compra e paga somos nós

Quem trabalhou de perto com Assis Chateaubriand (nome de perfume, mas nunca de flor que se cheirasse) jura que o dinheiro da campanha “Ouro para o Bem do Brasil”, que ele lançou para bajular os militares em 1964, foi parar nas multinacionais do automóvel. Sei, não.

Agora, tão importante quanto entregar armas nas sedes da Polícia Federal pelo Brasil varonil é ficar de olho para saber aonde elas vão parar. O arsenal que ela recebe diariamente de gente que acredita em autoridade é maior do que o esperado e suficiente para armar bandidos de Norte a Sul, Leste a Oeste e, principalmente, de Brasília.

E que fique bem claro: não é a Polícia Federal que paga pelas armas, como dizem certos noticiários distraídos. Quem paga somos nós, o povo. Se a campanha é um sucesso, se deve à confiança (ou credulidade?) da população.

Agora, assim como cariocas criavam ratos no começo do século passado, para ganhar 30 réis por rato na campanha contra a peste bubônica, há quem arrumará um jeitinho de fabricar armas no quintal para faturar. Há pouco, aquele humaníssimo e inteligentíssimo ministro não sei do quê não inventou que todos os velhinhos tinham de comparecer aos postos da Previdência para provar que estão vivos? E continua ministro, porque o Lula não encontrou ninguém pior para o cargo.

É que lei no Brasil é a coisa mais engraçada do mundo. Os códigos, todos elaborados por políticos, mais parecem um piadário. Lembra-se da campanha maciça de vacinação contra a meningite, em 1975? Pois é. Um deputado estadual (tinha de ser) paulista inventou que todo cidadão era obrigado a andar com um certificado que comprovasse ter tomado a vacina. Só que esse elemento apresentou o projeto e conseguiu aprovar a lei quase um ano depois da vacinação. Não é uma…? E quem aprovou também, né?

Agora, sua santidade, nosso presidente, aprovou a “Lei do Abate”, que manda derrubar aviões suspeitos de levar drogas. Com uma exceção: não pode derrubar se o avião tiver criança a bordo. Já viu o que os traficantes vão fazer, né? O diálogo entre o avião dos bandidos e do governo será incrível:

— Desça daí! Câmbio.

— Levo criança à bordo! Câmbio.

— Não consigo ver! Prove que existe uma criança com você! Câmbio.

O bandido joga a criança pela janela e avisa:

— Tem mais quatro, quer ver cair? Câmbio.

— Não! Pode ir! Boa viagem! Lembranças em casa e um beijinho nos pimpolhos! Câmbio.

Pregado no poste: “Lula é presidente ou coletor de impostos?”

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