Pobre gente
“São Paulo é rico porque tem água; o Nordeste é pobre porque não tem.”. Assim falava Teotônio Vilella, pai, menestrel das Alagoas, como cantava Fafá de Belém. “Nordestino são maioria entre migrantes que vêm a Campinas.”. Assim escreveu Maria Teresa Costa, terror dos medíocres, revelando nova pesquisa da Unicamp. Ela põe na ponta do lápis: “De cada mineiro que deixa Campinas hoje, outros dois chegam à cidade. De cada paranaense que sai, outros três entram, mas de cada baiano que se muda outros sete escolhem a cidade para viver.”. Estariam fugindo da seca, da Ford ou do Antônio Carlos Magalhães? Dos três?
Quem conhece a alma nordestina sabe que eles não migram. Fogem. Quem migra é o gaúcho. Já passaram do Maranhão. Logo, logo, veremos uma cooperativa deles no Alasca. Sim, porque dois mineiros juntos fazem uma conspiração; dois goianos formam uma dupla caipira; dois cariocas, uma sacanagem; dois mato-grossenses, uma pescaria; dois gaúchos, uma cooperativa e dois paulistanos, uma fila… Quanto ao nordestino que foge em busca de trabalho, é só a Severina mandar um telegrama dizendo “Choveu”, que o Raimundo volta correndo.
Por culpa exclusiva das “indústrias da seca”, todas comandadas por maus políticos nordestinos, esse é um dos povos mais explorados do mundo. Uma vez, na Rodoviária de São Paulo, do ônibus de retirantes que chegou à plataforma em meio a uma chuvarada, o primeiro passageiro saltou e rolou feliz numa poça d’água. Foi uma tristeza ver a alegria dele.
Aqui em Campinas, no alojamento de operários que construíam o viaduto “Laurão”, acompanhei o médico da empreiteira em consulta aos doentes. Um deles, barbudo e ressabiado, jurando que não tiraria a roupa para o doutor examiná-lo, chegou com o exame médico. Diagnóstico: Mal de Chagas. O médico, cheio de cuidados para não assustar o coitado, perguntou: “Você já ouviu falar em barbeiro?”. A resposta veio com indignação: “Doutor, essa barba é promessa pro meu Padim Ciço e eu não vou rapá-la, não!”.
Se deixarem jorrar água no Nordeste, muito ladrão vai morrer de sede.
Pregado no poste: “Já denunciou um traficante hoje?”
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