Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2005Crônicas

Onde estará?

Será que alguém sabe dele? Tem mais de trinta anos, um senhor muito simpático, criativo que só ele, levou o nome de Campinas para os mais importantes órgãos de imprensa daqui e do exterior. Um ‘Professor Pardal’. Ele nos procurou na redação da sucursal do ‘Estadão’, em cima d’A Exposição, na General Osório com Glicério, e abriu seu repertório de iventos. Todos práticos, funcionando direitinho, nenhuma enganação, nada de inutilidades. Capa vermelha, paletozinho azul claro surrado, camisa sempre branca, sapatos pretos e meias cor de vinho. Cabelos grisalhos divididos ao meio, como o lendário Thomás Ortale, e um cravo na lapela, como Tasso Magalhães. Se usasse gravata, seria borboleta, como Dito Colarinho, Antônio Braga (tio do Roberto Carlos, morava em Campinas, vendia pasta para limpar as mãos sujas de graxa.), Roberto Corte Real e Hugo Gallo Mantelato. (Renato Otranto, devolva a que você tomou emprestado do Oliveira Andrade, no Tênis, há mais de vinte anos.)

Esse senhor criou uma trava de segurança para automóveis e teve sua idéia roubada por um artista de televisão, muito querido até. Mas nem sempre eles são, nos bastidores, o que representam na tela. Criou também um meio de verificar, na hora, se a água de um rio, represa ou lago, está contaminada, usando um peixinho chamado cará. A Sanasa até empregou a técnica, mas depois…

Fez uma pecinha que ajudava a economizar 20% de gasolina – nenhuma montadora deu bola. Não consigo me lembrar de outro invento, que a Nasa comprou dele. E pagou! Naquele tempo, havia o “Jornal Internacional”, apresentado pelo Heron Domingues, nos fins de noite da dona Globo, e encerrado com notinhas do colunista social Ibrahim Sued. Até o Ibrahim noticiou a proeza daquele homem “que vendeu seu invento para a Nasa”.

Um inventor humilde na terra onde viveram Hércules Florence, Santos Dumont e o padre Landell.

Lembrei-me dele porque, dia desses, saiu o “Prêmio Ig Nobil” de inutilidades, que reúne até cientistas premiados com o Nobel de verdade na festa de entrega (em Harvard!) — é de se ver como o dito Primeiro Mundo gasta dinheiro com besteira. Imagine que biólogos suecos, dinamarqueses, canandeses e escoceses estudaram anos e anos para descobrir que os arenques se comunicam por… puns. Antes, pensavam que o barulho captado pelo invento viesse de submarinos russos. Se submarino fizesse pum, os sete mares estariam empestados!

Mais? Premiaram um sujeito do Alabama que estudou a influência da música country nos suicídios de Nashville. Lá, eu não sei, mas que aqui a música ‘sertanoja’ mata de nervoso, isso mata. Se alguém quiser cometer um “suicídio doloso” é só ouvir.

Até no Japão tem disso. Outro dia, saiu no jornal que lá inventaram boné para quem sofre de rinite – já vem com rolo de papel higiênico (como a magnésia leitosa do Orlando Rangel, lembra?); pauzinho para comer macarrão muito quente vem com ventilador pregado; o freguês também pode usar protetor de silicone para a língua – só que não dá para sentir o gosto da comida; há o garfo rotatório para comer espaguete, só que espirra tudo na roupa…

Tanto progresso, mas ninguém consegue uma vacina definitiva contra a gripe; outra que imunize contra as drogas; algo que interrompa o seqüen; uma poção mágica que tire a vontade de dona Izalene e sua turma de tentar outra vez a Prefeitura… Já imaginou um invento que só elegesse políticos honestos, competentes e talentosos? (Logo apareceria um projeto de lei proibindo, quer apostar?) Ou dinheiro à prova de político ladrão. Isso! Cédulas, moedas, cheques ou cartões que rejeitassem calças, bermuda, meias, calçados, saia, saiote, camisola, pijama, camisa, paletó, sutiã, calcinha, e cuecas (cuecas, claro!). Esse invento tem de vir rápido, antes que “político ladrão” vire pleonasmo. Não é? Digo, né?

Pregado no poste: “No Brasil, o pesadelo começa quando a gente acorda”

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *