Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

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O primeiro clone

Começou a ser clonado esta semana, em Moji Mirim, aqui perto de Campinas, o primeiro ator brasileiro, quiçá do mundo. Além de clone, é candidato sério a ganhar o troféu Imprensa, do Sílvio Santos, como revelação de 2005. Para variar, o artista é da Rede Globo e tem até uma assessora de imprensa. Nunca deu autógrafos; jamais namorou atriz alguma; é avesso a badalações; não dá escândalos; não bate em fotógrafos afoitos; não aparece em festas de celebridades e dizem que é do tipo machão, mas só se exibe ciscando, como a ensaiar passinhos de balé. Sei, não! Sei, não! Seu nome é Touro Bandido, verdadeira máquina de sêmen – e de dinheiro. Na novela das nove e cinco, não tem pra ninguém: divide o estrelato com o cão Quartz e a doce Bruninha Marquezini. O resto do elenco virou coadjuvante desses três.

Nestes tempos de clonagem, seu destino é perpetuar a fama e o desempenho. Nos anos dourados de Hollywood, claro, teriam clonado Rin-tim-tim, Lassie, Fury, Silver, Triger, Elza, Bamby, Pluto, Pluta, Pateta, toda a família Donald, o Grilo Falante, Pica-pau, Pau-a-pique, Chita, Tom&Jerry, Andy Panda, Zé Carioca… Já que vivemos numa colônia do Tio Sam, a tecnologia de clonagem é americana, como convém a um touro de rodeios, destaque da “Nashville Brasileira”. (Parece incrível, mas é assim que agora chamam Barretos!)

Eu gostaria mais se clonassem as andorinhas de Campinas; a onça Nero, do Bosque dos Jequitibás (cria do Vicentão Torquato, misto de gente boa demais com babá de onça); a égua da carroça do Dito Colarinho; o Leão da Várzea; as gatas rajadas que caçavam ratos na lanchonete das Lojas Americanas, na Treze de Maio; o pavão do Bosque, de estimação do jornalista Hugo Gallo Mantelato; as cabras da Será das Cabras; os leões do pátio do prédio central da Puccamp; o Galo de Ouro, restaurante do seo Renato Camarinha; o tubarão da Casa Tubarão, na Costa Aguiar; os galos da rinha daquele ex-prefeito (grande prefeito!).

Há mais, muito mais bichos (eu disse bichos) em Campinas: os canários do Juarez Alves, da sorveteria Torre di Pisa, campeões mundiais de canto; o cavalo da cerveja Mossoró, aí perto da Estação da Paulista; o marreco do restaurante do ex-prefeito Gegero, no Largo do Teatro; os pangarés do Hipódromo do Bonfim; a macaca da Ponte Preta; a águia do Campinas Futebol Clube; o periquito da sorte da lotérica, na Avenida Campos Salles; os cachorrinhos do Mário Melilo; as capivaras do Parque Taquaral; os gatos da jornalista Samya Araújo; o boi engolido por um homem no reclame do Elixir Doria; Nick, o cachorro do Lineu Renato Henriques, que só faz xixi se pular para um balão-galinha…

O Dado Pires Véspoli pede uma clonagem especial. A da égua do seo Armando, o melhor verdureiro do mundo, que chegava alegrando a garotada da Rua Antônio Lobo, Barão de Itapura e adjacências. Ela foi a primeira montaria de muitas crianças do bairro.

Clonar os mosquitos da dengue, os pombos do Largo do Rosário, os ratos e as ratazanas da política, jamais!

Não sei se pega bem. Você mandaria clonar o veado da farmácia Veado d’Ouro? Claro, ela foi fundada pelo campineiro Henrique Schaumann, há mais de século, mas acabou tristemente, por vender remédio falsificado. Só um campineiro, para fazer uma botica e pôr nela aquele nome!

Já que falamos em clone (Vixe! As feministas vão me matar!), os ilustres membros e membras do clero precisam atentar para uma realidade que ele mesmos pregam desde o catecismo e, agora, condenam. Se Eva foi feita da costela de Adão, ora bolas!, ela é o primeiro clone da história…

Pregado no poste: “O homem é o único animal político e corrupto”

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