Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2005Crônicas

O leilão

Mestre Odilon Nogueira de Matos costumava dizer que existem mais logradouros com o nome do filho de um político em Campinas do que da família Kennedy no mundo. O político, o filho e Kennedy jamais fizeram ‘niente’ por esta cidade, assim como o genocida Stalin e o marechal Tito. Mas resta a lenda: todo mundo se lembra de onde estava e o que fazia quando soube da morte do marido da Jacqueline.

Batata. Se alguém tiver a pachorra de procurar uma ruazinha de uma casa só, entre as ruas José Paulino e Professor Luís Rosa, logo após a Delfino Cintra, encontrará um paralelepípedo saltado do nível dos demais. Eu estava com o pé nessa pedra, quando o sapateiro Michelle Gentile gritou: “Maccire! Mataro a Kennedy! Mataro a Kennedy”. Eu havia acabado de sair dali, onde deixara um par para conserto, começo da tarde de 22 de novembro de 1963.

Hoje, em todo o mundo, John Kennedy só não é nome de igreja – acho. Aqui, ele logo ganhou uma praça, com um monumento ornado por uma tocha. Pais ainda homenageiam filhos nascidos depois da tragédia, com o nome do homem que ajudou a criar o mito Fidel Castro, um dos pilares de sustentação da guerra fria. A guerra acabou, o comunismo morreu de fome e o fóssil continua lá, matando, esfolando, prendendo e justificando a corrida armamentista, sem perceber. Trouxa.

Agora, coisas do primeiro presidente do mundo eleito pela TV vão a leilão. O relógio usado na posse; papéis rabiscados durante a crise dos mísseis em Cuba; alfinetes, cartazes e objetos de Kennedy deputado e senador. Um telefone vermelho, branco e azul; duas cadeiras de balanço da Casa Branca; a carteira de couro com seu monograma e roupas que pertenceram a ele e a Jackie. Há ainda as bandeiras que tremulavam na limusine presidencial no 22 de novembro, em Dallas, e o barco a vela da família, o ‘Flash II’.

Não ouso escrever aqui que pertences leiloaríamos do nosso amado, íntegro, probo, competente, virtuoso, reto, crédulo, digno, honrado, esperto, vascaíno, pernambucano, metalúrgico e do que mais Zé Dirceu se lembrar para enaltecer o presidente Lulla. Mas publicarei sugestões. Sigilo absoluto.

Pregado no poste: “Quem dá menos?”

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