Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2009Crônicas

Não é fácil…

… ser árvore nem bicho em Campinas (eu escrevi bicho). Inclusive os bichos de nossas faculdades. Foram os primeiros a viver com a fauna urbana, quando monsenhor Salim semeou a hoje Puccamp, depois Zeferino Vaz, o ‘mandarim’ do Eustáquio Gomes, plantou a Unicamp, mais conhecidas por “Escolinha da Igreja” e “Sítio do Zefa”. (Bons tempos, em que os reitores eram tão populares quanto o Mané Fala Ó.).

Uma vez, apareceu uma serpente venenosa numa câmara municipal e mataram a coitadinha, apesar da revolta da população. Depois, num gabinete, um leão devorou do chefe aos afilhados políticos, mas só quando a fera engoliu a querida servidora concursada, que servia o cafezinho, descobriram a existência do rei dos animais em palácio. Ninguém sentiu falta do resto.

Agora, em reportagem de texto precioso, exposta nas melhores bancas do domingo, a repórter Milene Moreto começa com esta definição rara na imprensa hodierna (atual): “O novo retrato da fauna silvestre da Região Metropolitana de Campinas é urbano.”. Quer apostar como já há palpites de matadores para esses bichos? Sugestões não faltarão: anzóis em grãos de milho; sagu cru, que asfixia aves, quando bebem água; apito de caça para ensurdecer os quadrúpedes até a loucura; bolas de carne envenenadas – estilingue e espingarda, não. É pecado.

No Canadá e no Alaska, toda construção, de prédios públicos a residências, têm de deixar portas fechadas só com o trinco, para abrigar quem estiver fugindo de ursos. Já imaginou que maravilha se aqui pudesse ser assim? Ninguém se incomodaria com os ilustres animais que agora nos visitam. O perigo está nos bandidos, muitos de gravata! Sempre há notícia nos alertando de um que até eleito foi.

A coleção da Milene tem “até pa troca”: tucano, seriema, lobo guará,  capivara, sagui, cobras e lagartos, gavião, maritaca, onça,  porco espinho, raposa, cobras… Eu, que não vejo um marimbondo há décadas, sinto saudade de vê-los em volta de poças d’água de chuva na beira das sarjetas. Prefiro que a cidade tenha muito mais bichos: que venham corujas, tatus, minhocas, tartarugas e jabotis, jaguatiricas… Ratos, não; basta os que há por aí

Vicentão, volte ao tempo em que você era como da família dos bichos do bosque. Abra as jaulas, derrube as cercas, pra que todos venham nos ensinar que sem certos seres humanos ditos racionais, eles viveriam muito melhor.

Pregado no poste: “Já há mais cracks na rua do que craques em campo”

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