Fio da meada
Depois de ler a reportagem do José Pedro Martins, semana passada, sobre o provável desfecho daquele caso da morte (ou desaparecimento?) da Alba Lucínia Panza de Figueiredo, lembrei-me de outro episódio ocorrido na mesma época, também sem desfecho. Alba Lucínia era (ou é?) filha de um ex-vice-prefeito ou prefeito da cidade de Garça, ali perto de Marília. Detesto noticiário policial, mas talvez esse repentino assalto à memória possa ajudar a polícia. Fica a contribuição. Ela que faça o uso que quiser da informação.
Pouco depois daquele fato que culminou com a acusação de homicídio sobre o dentista Paulo de Figueiredo Junior, marido de Alba, aconteceu o seqüestro do ex-diretor do Bradesco Beltran Martinez. Caso rumoroso, na época. O certo é que foi pago um resgate de US$ 5 milhões e os seqüestradores, nunca identificados. Sobrou acusação pra todo lado, muita gente envolvida, mas nada jamais comprovado. Falou-se até em auto-seqüestro.
Um grupo de pessoas inescrupulosas, incluindo policiais, se aproveitou daquele seqüestro para extorquir desafetos, envolvendo-os como supostos seqüestradores. Tudo em Marília: escuta telefônica, queima de pistas, fugas espetaculares, gente se escondendo, contrabando, tráfico de drogas. Imagine, numa cidade pequena, “figurões”, de repente, no olho do furacão, como suspeitos de estarem por trás do maior pedido de resgate da história, até então. Foi um rebuliço. Daquela confusão toda, só um foi parar na cadeia: um delegado de polícia de São Paulo, apontado como autor do plano de extorsão, armado em cima das investigações. História muito mal contada e mal acabada.
Um ano antes, eu havia feito uma longa entrevista com um homem acusado pela Polícia Federal de ser o maior, mais poderoso e influente contrabandista da fronteira Brasil-Paraguai. “Cuidado! Ninguém pode com ele; nunca conseguimos pegá-lo”, me alertou o então diretor da PF, o hoje senador Romeu Tuma. Esse homem me contou toda a sua vida, de 46 homicídios nas costas, e lançou um desafio: “Se você provar alguma coisa contra mim, dou-lhe toda a minha fortuna; mas se você escrever algo contra mim, sem provar, mando matá-lo, nem que seja nos confins da terra. Posso ser útil a você, porque, no Brasil, o que eu não sei na hora, fico sabendo em cinco minutos…”.
Eu cumpri minha palavra e ele, a dele. Tanto que dois dias antes de o ditador paraguaio Alfredo Stroessner cair, aquele homem ligou em minha casa, para avisar: “Don Alfredo será deposto depois de amanhã. Se quiseres uma cobertura completa, mande uma equipe já para Assunção.”. Mandei. Deu certo.
O seqüestro do Beltran tinha acontecido meses antes disso. Liguei para aquele homem e ele me contou a seguinte história: “Imagine um chapéu com copa e aba. A copa planejou a ação e a aba executou. Só que uma não conhece a outra. A polícia jamais chegará aos culpados. Mas você se lembra do caso dessa menina aí de Garça, que sumiu no começo do ano, lá perto de Campinas? Pois é. Se a polícia começar pelo caso dela, é capaz de descobrir uma grande história.”. Desligou. Contei a história a um delegado, ele ouviu e desligou.
Pregado no poste: “Alô, policia!”