Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2002Crônicas

Fases do homem

Nada a ver com aquela história de que o homem “nasce, cresce, fica bobo e… casa”. Muito menos com a velha piada do ouro, da prata e do chumbo: ouro no bolso, prata nos cabelos e chumbo não sei onde. Também não é sobre as partes (epa!) do corpo do homem: zóio, zoreia e zunha ou calça, colete e paletó. Não, também não é sobre “a vida de solteiro é vazia e a de casado enche”.

Meu filho, lendo esta crônica atrás de mim, tenta adivinhar, lembrando-se das mensagens que traz numa velha camiseta. Fala da idade do homem: “Dos 20 aos 30, ele é gavião: come tudo o que aparece; dos 30 aos 40, ele é águia: escolhe o que vai comer; dos 40 aos 50, papagaio: fala mais do que come; dos 50 aos 60, é lobo: corre o dia todo atrás da chapeuzinho vermelho e volta para casa para comer a vovozinha e dos 60 ao 70, é o condor: com dor aqui, com dor ali…” (Não sei quem é o autor; a camiseta veio de Caldas-MG.).

O outro, aquele corintiano, já vem com brincadeira: o homem sai fresco de Campinas; cria chifre em não sei em que cidade (onde, mesmo, amigo Cecílio Elias Neto?); vira macho em Bagé; alguns se arrependem em Pelotas; torna-se malandro no Rio de Janeiro e desconfiado em Minas; se for de Ponta Grossa, não consegue se casar com moça de Curralinho; fica grande em Itu; passa a lua-de-mel em Poços de Caldas; corre o risco de virar corrupto em Brasília…

Quanta besteira se inventa para definir a conduta do homem!

A mais realista me foi contada pelo jornalista Genilson Senche, sábado passado, em Araçatuba. E não compara o homem com o touro nem com boi, muito menos com o bezerro desmamado ou com o novilho precoce (É que lá em Araçatuba, vivem mais bois do que gente.).

Diz o Genilson, que na primeira fase da vida, quando viaja para qualquer parte do mundo, o homem volta falando exclusivamente das mulheres que conheceu. Ele não se lembra de nenhum detalhe da paisagem, das atrações turísticas que visitou (se é que teve tempo de visitar), dos museus, dos hábitos do lugar, nada. Só fala das mulheres. Menos da mulher barbada, de quem ele desconfia até hoje: “Será que não fui enganado?”. De qualquer forma, arrependeu-se. Por isso, prefere guardar segredo. Tanto que não vai mais a circo nenhum, com medo de ser reconhecido.

Na segunda fase, a conversa desse ilustre viajante se resume a comentar os restaurantes que freqüentou, os cardápios, as cozinhas, as receitas, a educação dos garçons, o valor das gorjetas. Conta que houve dias em que almoçou três vezes. Provou de tudo, até o “arroz com feijão”, para ver se lá é igual. Tão preocupado em saborear cada prato, pediu “azeite estrangeiro” em Portugal.

Mas quando está na hora de “dobrar o Cabo da Boa Esperança” dessa viagem, o homem volta com as malas carregadas de remédios. Traz do exterior as últimas novidades em vitaminas, fortificantes, afrodisíacos e elixires da juventude. São frascos, cápsulas, drágeas, comprimidos, sachés… Nem injeções escapam. Tudo devidamente acompanhado de bulas traduzidas em todos os idiomas. Ainda diz para o fiscal da alfândega que são “para o sogro”.

Se encontrar, esse homem é capaz de trazer até água em pó, para ser tomada dissolvida na água…

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