Depois
Depois do vendaval que dizimou a cultura em Campinas, renascem manifestações dignas desta terra. (Falar em vendaval, quase todos os furacões têm nome de mulher – que nome você dá para aquele que teve o olho bem no Palácio dos Jequitibás?)
Está nas joalherias e livrarias “Memória Poética de Campinas”, da lavra do João Proteti e ilustrada pela Marília Cotomacci. Bom de ler e de ver. Cada poema homenageia um canto da cidade. Vamos ver os primeiros versos? Depois, é só procurar nas joalherias e livrarias – se eu fosse joalheiro, sem brincadeira, exibiria este livro na vitrina. Ele escreve, ela pinta (na capa, o passarinho pousa na mão esquerda do maestro, “para lhe provocar uma ópera”):
“Sr. Pombo, por favor, pouse em meus ombros…”, para os pombos e lambe-lambes do Largo do Rosário.
“Te convido para um passeio na Lagoa do Taquaral / Claro que não vai ser a pé, suando…” A Caravela!
“Desconfiada roendo sementes, uma cotia me espia e me diz bom-dia” … No Bosque.
“… Minha avó colhia flores das paineiras da Orosimbo”. E uma fotografia delas batida em 1920! Ah Campinas!
“A Rua Treze me dá sorte! Vamos eu e minha mãe de mãos abanando…” E aparecem a Catedral e o Teatro vistos pela Treze, em 1938.
“Aceita um cafezinho? Foi feito com grãos filipe e passado em coador de pano.” Que aroma! Tem até a foto do Joaquim Corrêa, fundador do Regina.
“Tenho canjica, pipoca e canário. Angola, bisteca e codorna…” Só faltou seo Pachola, para rimar com Angola. É o Mercadão, ora bolas! Rimou!
“Andorinha, me diz o que é que você faz grudada nesta calçada, se você tem todo o céu para voltar pra casa?” Até as andorinhas voltarão. Bate uma aposta?
“Quem foi que disse que árvore não fica triste? Lembra do jequitibá-Rosa?” E do alecrim? Mortos pela omissão de um e por um sem-coração. Nem oração…
“A vantagem de ser estátua é esta: ter um passarinho pousado na cabeça.” Para Guilherme de Almeida. A vantagem de ser campineiro é essa: ter fé na Conceição e certeza na Fênix do brasão.
Pregado no poste: “Campinas de volta!? Será verdade!?”