De facto
Senhoras e senhores mestres, em minha modesta opinião, o escritor e jornalista português Miguel Sousa Tavares tem razão, quando estrila: “O Brasil é o único país que recebeu a língua de fora e impõe uma revisão do idioma ao país matriz, como se os EUA impusessem um acordo ortográfico à Inglaterra.”. Ou o Haiti à França e o Paraguai à Espanha, digo eu.
Dá-lhe Miguel: “O facto é que a partir de 2012, continuaremos a falar português, mas a escrever brasileiro. É parecido, mas não é exatamente o mesmo. De facto, no nosso idioma, a grafia mudou por decreto. Isso pode não ser bom, mas afinal, o bom é inimigo do ótimo. Observemos este facto: quando os brasileiros querem se referir a um fato, a um acontecimento, dizem ‘fato’, pois não precisam do ‘c’ pra nada. Pois para eles, o ‘fato’ é um ‘fato’ e não como é para nós, uma roupa. Dizem um ‘terno’, quando queremos dizer ‘fato’.
Isso quer dizer que para eles, o acordo não faz diferença nenhuma, mas para nós uma consoante pode fazer toda a confusão. Quando escrevermos ‘fato’, não saberemos se estaremos a falar de roupa ou de um acontecimento. Se é um facto político ou a vestimenta de um político. Permanecem as consoantes que os brasileiros pronunciam e nós não e desaparecem aquelas que nós pronunciamos e eles não. Como ‘receção’. Os brasileiros dizem ‘chegar à recepção do hotel’ e nós dizemos ‘à receção do hotel’. Como eles dizem com ‘p’, fica com ‘p’.
Mais estranho ainda é que em Portugal se chegou ao horror de não se consultar as pessoas que mais trabalham com a nossa língua: professores, escritores, editores, jornalistas. No Brasil, também: quando pergunto a alguém se havia alguma grande necessidade de se uniformizar a grafia, até hoje não consegui encontrar uma resposta positiva.
Para mim permanece o mistério de saber qual foi a necessidade. Dizem que é preciso uniformizar a língua para sermos uma potência econômica mundial. É uma realidade com a qual nós nem os países lusófonos d’África podemos concorrer.”.
Pregado no poste: “Aprenda Português, ‘menas’ com quem assinou o Acordo Ortográfico”