Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2009Crônicas

Cultura despejada

Tá louco, parece Campinas!

Cravinhos é uma cidade importantíssima – ou era. Berço de gente valorosa, como o repórter Rogério Verzignasse; última parada do ônibus da Viação Cometa antes de chegar a Ribeirão Preto; estação da Mogiana desde 1964; café saborosíssimo; terra vermelha e uma das mais caras do Brasil. Mesmo que você não plante nasce. Ali, abateram Dioguinho, o legendário matador dos punhos de renda, a serviço da colonizadora Companhia Melhoramentos. Ou da Mogiana? Cravinhos celebra 133 anos por estes dias, mas pelos últimos acontecimentos, ainda transformam tudo num velório.

Começa que nos últimos oito anos ela teve seis prefeitos. A gente ligava lá e perguntava: “Que prefeito está de plantão hoje?”

Dia 25, a primeira igreja matriz da cidade, patrimônio histórico de 120 anos em louvor a São Benedito, desabou. Padre prefeito, irmandades, carolas, passaram um tempão discutindo quem salvaria o templo. Enquanto isso, após três meses de interdição, veio ao chão

(Mais ou menos como a história do elevador da rodoviária de Campinas – tanto tempo interditado que no dia em que ficar pronto, a rodoviária desaba. Falar nisso, há algum elevador interditado no Palácio dos Jequitibás? Nada, não, seo dotô, só pra saber…)

Agora, insidiosa, escabrosa, odiosa é esta: por si só, a vida do zelador Sebastião Silvestre Moraes Filho já daria uma reportagem edificante, daquelas de encerrar o ‘Fantástico’ de véspera de segunda feira feriado. Cúmulo do otimismo.

Os primeiros livros foram recolhidos das lixeiras dos grandes edifícios. Acumulados ao longo de cinco anos pelo zelador Sebastião somaram 4.200 livros. Nos últimos dois anos, crianças e estudantes da periferia de Cravinhos se divertiram com o variado acervo. Entre os infantis, o campeão foi “O Ratinho Comilão”; histórias do “Menino Maluquinho” e os “Caça-palavras” também encantavam.

Adolescentes liam Agatha Cristhie e os estudantes preferiam livros didáticos. Havia títulos até para universitários. Agora, não se sabe o motivo, o acervo está sendo despejado pela prefeitura. considerados estorvos. Por isso, Sebastião, que mora em Cravinhos e trabalha em Ribeirão Preto, está sendo pressionado para levar seus “cacarecos” para outro local. Ele calcula que 300 famílias pobres ficarão sem litura.

Já pensou se houvesse pena de morte no Brasil?

Pregado no poste: “Rogério, se você topar, eu ajudo!”

 

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