Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2002

Cobra de segurança

Correio Popular, julho de 1989: ladrões levam 10 carros por dia.
Correio Popular, julho de 1994: ladrões levam 20 carros por dia.
Correio Popular, julho de 1998: ladrões levam 33 carros por dia.
Correio Popular, julho de 2003: ladrões levam todos os carros da cidade…
Nesse ritmo, não sobrará um para contar esta triste história. Uma história que já foi contada há cinco anos pelo repórter Marcelo Pereira. Conhece? Não? É o pai do Gabriel. Agora, foi a vez da Maria do Carmo Pagani. Conhece? Não? É a mãe da Júlia e do Pedro. Cada vez que um repórter do Correio conta essa história é forçado a aumentar muitos pontos. Seguro do carro em Campinas é mais caro, porque o risco é maior.
Numa crônica de cinco anos atrás, em cima da indignação do Marcelo, lembrávamos aqui, que a expansão dos furtos e roubos de veículos era maior do que a da frota da cidade. Uma prova de que a audácia dos ladrões é superior ao desempenho da indústria automobilística – portanto, dia chegará em que Campinas ficará sem carros. Parece que sem polícia ela já ficou.
Enquanto isso, a indústria de engenhocas para inibir a ação dos bandidos também cresce e amplia a variedade de equipamentos. Em vão. A Febem mantinha uma unidade de delinqüentes juvenis superdotados em Sorocaba. Para medir a perspicácia dos meninos, psicólogos e engenheiros equipavam carros com os dispositivos de segurança mais modernos. O garoto com o “QI” mais baixo saía rodando em menos de 15 segundos. Eles “desarmavam” qualquer esquema de segurança de agências bancárias. Prodígios. Do mal.
Bandido supera qualquer truque e, um a um, eles entram e saem de moda, desmoralizados. Havia a chavinha, embaixo do tapete do banco do “carona”, que, acionada, interrompia o fornecimento de combustível. A trava da direção; a gravação do número do chassis nos vidros; a retirada do cachimbo do motor (motor fuma cachimbo?); alarmes – o som desses aí já virou marca registrada nas cidades, mas para os ladrões, ele não passa de música folclórica da bandidagem. É mais manjado do que a sirene da polícia. Quando dispara, o carro já foi saqueado. Aliás, a polícia…
A melhor solução encontrada até hoje é a de um comerciante da Moóca, em São Paulo. Ele leva uma serpente ensinada dentro de uma caixa. Quando sai do carro, solta a cobra. Não sei de nenhum meliante com coragem de matar aquela cobra e mostrar o pau. Funciona.
Vou repetir uma sugestão de cinco anos atrás: muita gente, quando sai do carro, leva o toca-fitas. Deve haver um jeito de fazer uma direção removível, que se encaixa na barra, como a chave Yale se encaixa na fechadura. Sabe como é? Uma direção para cada carro, como existe uma (e só uma) chave Yale para cada fechadura. Os ladrões podem ser espertos, mas duvido que algum deles consiga dirigir um carro sem direção. Fica difícil, também, eles carregarem um montão de direções debaixo do braço, até achar uma que se encaixe no carro que querem roubar.
Para vencer esse desafio, só se o ladrão inventar um jeito de dirigir um carro sem direção usando um controle remoto. Será que dá certo?
Pregado no poste: “Ladrão que rouba certos políticos tem cem anos de perdão?”

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