Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2010Crônicas

Clinton & Clinton

O guardinha não foi. Não teria coragem de entregar o segurança, provavelmente seu chefe. Um vereador? Oito da manhã, quando a cidade inteira trabalha, é hora de edil labutar na egrégia? Uma faxineira, talvez, porque trabalha. Ninguém estranharia a presença de uma trabalhadora, ainda que naquele lugar, hoje tão longe da cadeia, mas tão perto do cemitério. Logo que saiu de cima da cadeia, a colenda foi palco de um acontecimento incrível (logo, não é de hoje): a titular absoluta dona da posição entrou no gabinete e flagrou uma moçoila no colo de seu cônjuge. Mais gorda que ele, aquele último andar tremia. Dizem que não sobrou nada em pé. Eu vivi pra ouvir isso: “Clinton e Mônica, em sua primeira versão, tiveram de escapar como estavam, sob uma tempestade de quadros, esculturas, baixelas, cinzeiros, suspensórios, cintas-ligas, não sinta-liga…”.

Certa vez, uma vereatriz ria a bandeiras despregadas no Plenário. Até que um jornalista a atraiu pra seu chiqueiro para saber o que se passava. Ela entregou o colega de partido: “Olhe por baixo da mesa diretora…”. O primeiro secretário, com quase tudo à mostra, fazia xixi no cesto de lixo e ria sem pregar sua bandeira.

Antes da mudança para os altos do velho Palácio da Justiça, a ardência das paixões voltou a cair de boca em boca pela cidade. Alguém precisa fazer uma boa comédia de maus costumes com esta cena: a bandeira brasileira de um gabinete era a mais bem engomada da região. Ninguém foi flagrado porque não havia guardinha e os guardas-civis, encarregados de ornamentar a Casa com seus alamares, eram suficientemente espertos para não abrir portas.

Vejam o surrealismo que levou à descoberta: no Sete de Setembro, o encarregado de hastear a mãe da Pátria no mastro inclinado na janela do gabinete nem imaginou que houvesse um pavilhão próprio para a ocasião. Entrou, tirou a dita cuja de trás da mesa daquele homem de leis e a colocou, garbosa, no devido lugar, de frente para loja Garbo. Ventava que Deus mandava. E a bandeira lá, ‘impávida colossa’, mais firme que chapéu de caubói, provando a Castro Alves que a brisa de Campinas não beija e balança certos artigos multiuso.

A mais nova versão do Clinton campineiro também é hilária, sem trocadilhos. Não importa se quem sai engomada dela é a bandeira ou a saia. Muito menos se foi charuto, cachimbo ou cigarro de palha. Faxineira ou estagiária, segurança, vereador ou vereadores associados, o senhor presidente da Câmara é obrigado a revelar quem são os envolvidos. Quem foi demitido por justa calça ou saia justa, afastado, repreendido ou advertido. Não é divertido. O povo é quem paga tudo isso (na marra) e quem esconder um alfinete do fato prova que está envolvido.

Pregado no poste: “Cassa, caça ou coça?”

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