Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2002

Circuito sinistro

Novo curto-circuito. E a nossa Campinas está nele. Nossos jovens estão nele – todos prontos para morrer antes da hora. (Nem estou falando da torre de celular que aquela prefeita deixou espetar em cima da caixa d’água que o povo vai beber.).
Você se lembra de quando os (bons) intérpretes da música popular brasileira instituíram os “circuitos universitários”? Era uma forma de passar mensagens lúcidas na escuridão da ditadura. Pois é, existe novo circuito universitário acossando os estudantes e não é com música.
Sabe aquela história do maior desmanche de veículos do Estado que a polícia demorou, mas descobriu em Campinas? Então, depois de anos, a polícia descobriu que há sempre mais de 200 nigerianos vivendo na cidade de Franca. De cada mil francanos, um é nigeriano. E a polícia nunca desconfiou de nada. Será que não? De vez quando, um ou outro ia preso, talvez para “dar uma satisfação à sociedade”. Enquanto isso, existem mais de 50 francanos presos no exterior por tráfico de drogas, porque, talvez, a polícia estrangeira dê mais satisfação à sociedade do que a nossa.
Franca é uma cidade espetacular. Centro cultural, capital do café, do calçado e do basquete e duas grandes universidades, uma delas a da Unesp, que mantém um curso de Direito primoroso, único do governo além da São Francisco, da USP. Tem ainda um curso de História excelente. Franca tem história para contar, até história que não houve – afinal, também a chamam de Franca ao Imperador e imperador algum esteve lá. Nem o Bush.
Mas entrou no circuito. A droga vem da Colômbia e da Bolívia, concentra-se em Uberlândia, primeiro pólo universitário do circuito, alastra-se por Uberaba, Franca, Ribeirão Preto e se fecha em Campinas. Será que a polícia, um dia, vai desconfiar dessa rota macabra e começar a investigar? Até lá, quantos vão matar e morrer? “Até perceber que aqueles nigerianos não eram importadores de calçados, como se apresentavam, mas introdutores da técnica de enfiar cocaína no fundo falso dos saltos dos sapatos, a polícia levou um banho”, conta um amigo francano. “Antes, enfiavam comprimidos com cocaína até no estômago. Ainda há quem faça isso por aqui, e percorrem a mesma estrutura da exportação de calçado, para enfiar o pó lá fora. As fábricas não têm nada com isso, são vítimas como somos todos nós”, lamenta.
Pregado no poste: “Prefeita, que tal espetar uma torre de celular no seu prédio?”

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