Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2002

A diferença

Tem gente que briga por causa do nome de biscoito e bolacha. Vem um e fala que prefere o Negresco, outro quer o Bono, aquele lá exige o Recreio, o Salclic. Até que alguém dá um berro e fala que se não tiver Tostines nem São luiz, não leva nada. Sem falar dos que disputam entre Calipso, Galak, Passatempo, Vitalife…
Donas de casa perdem um tempo enorme para ver quem é melhor na compra do leite, biscoitos, iogurte, doces, sucos e começa o desfile de marcas: Santal, Etti, Neugbauer, Betânia, Alimba, Lacesa, Mimo, Parmalat…
Refrigerantes, então, é uma farra: Coca-Cola, Guaraná Kuat, Sprite, Fanta Uva, Fanta Laranja, Fanta Limão (existe isso?).
Sabão em pó também entra na batalha: Omo, Minerva, Rinso…
Sabe o que esses “segmentos de mercado” têm em comum? São todos da mesma fábrica. Os biscoitos, lá em cima, são da Nestlé. Em seguida, é tudo da Parmalat. Os sabões, aqueles e muitos mais, são da Gessy Lever, hoje Unilever. A Gessy, por exemplo, é uma empresa fundada em 1897, pelo seo José Milani, aí em Valinhos, quando a terra daquela prefeita ainda era distrito de Campinas. Começou fazendo sabonete e pasta de dente. É uma das indústrias mais antigas do Estado, mais velha até que a Usina Ester, de Cosmópolis, de 1898. E foi a Gessy que lançou o primeiro sabão em pó no Brasil, o Rinso, em 1953, desbancado em 1965 pelo Omo (Old Mother Owl – velha mãe coruja), dela mesma.
Marcas de cigarro vão na mesma linha: Continental, Roliude, Free, Carlton, Cônsul, Minister. Nem sei se ainda existem Lincoln, Advanced, Capri…
Como se vê, são todos da mesma empresa da Souza Cruz, que não é do sr. Souza nem do sr. Cruz, mas da American British Tobaco. Ou seja, mudam as marcas mas os donos são sempre os mesmos. E é uma bagunça. Hoje a Unilever fabrica tempero, maionese, creme de barbear… Se der uma confusão na fábrica, a gente corre o risco de comprar vidro de maionese com pasta de dente, temperado com Omo, aquele que “lava mais branco” e “dá brilho à brancura”.
Você já viu onde se pode chegar: campanha política, claro. Não falam que candidato e sabão em pó, cerveja, sabonete são todos a mesma coisa? E que o povo “compra” o que for melhor vendido? Só que no fim, quem acaba vendido é o povo.
As marcas podem ser diferentes. Mas no caso dos cigarros e dos políticos, não há diferença nenhuma. Os dois só fazem mal.
Pregado no poste: “Inverta a chapa, Serra!”

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