Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2009Crônicas

Caros Mestres,

Não digo que seja um desafio. Quando muito, um contraste, sinal dos tempos. Mas vai surpreender. Já começaram a lecionar este ano? Então, tenho duas propostas a incluir entre as atividades deste ano letivo. Primeira delas, é medir o grau de criatividade e de agressividade da meninada. Vale até os doze, treze anos, não mais.

Um belo dia, antes de começar a aula, peça às suas alunas e alunos que coloquem sobre as respectivas carteiras tudo o que tiverem nos bolsos, nas bolsas e nas mochilas. Muitos anos atrás, ainda no limiar da inocência, fiz, de comum acordo com professoras e professores de alguns bairros da periferia de São Paulo, o que parecia, para os alunos, uma brincadeira. Surgiu um canivete, o que preocupou muito para os padrões educacionais da época.

Mas sobravam bolinhas de gude, estilingues (ainda havia passarinhos na cidade), moedas de valor destruído pela inflação, apontadores, lápis, borracha, figurinhas dos então nascentes heroinas e heroinos de história em quadrinho. Paninhos encardidos a dar com pau, espelhinhos, carretéis de linha, batons, escovas. Chaveiros com distintivos de todos os times de futebol, até do Corinthians, que nem time tinha, posto que ainda estava na fila por mísero título de campeão paulista. Imagine a humilhação: nenhum daqueles garotos tinha visto seu time campeão.

Nem imagino o que pode sair hoje dos bolsos dos moleques e molecas além de melecas. Pelo andar da carruagem, nos EUA e na Alemanha, já está na hora de aparecer granadas, metralhadoras e uma ou outra bomba atômica. Aqui, claro, vão pintar pedras de crack, cigarros de maconha, trouxinhas de cocaína, viagra para crianças, pistolas automáticas, até cadernos, livros e lápis de cor. Duvida?

Mas é aí que a coisa pega. Pedi que cada um escrevesse uma redação – coisa de 25 a 30 linhas escritas à mão – com o título “Meu bairro”. Juro que as dez melhores, escolhidas pelos mestres, que me chegarem primeiro, coloco aqui neste espaço. Combinado? As duas experiências valem para escolas públicas e particulares.

É muito provável que ainda apareçam relatos sensíveis e importantes. Digo “ainda”, porque não será nada fácil encontrar crianças brasileiras com doze ou treze anos que já saibam escrever. É triste. Que sirva de estímulo. Na São Paulo daquela época, o então prefeito Miguel Colassuono até atendeu reivindicações de algumas crianças. Se quem nasce para dr. Hélio chegar a Miguel Colassuno, será outro incentivo, mas sem vantagem alguma.

Pregado no poste: “O que você vai ser se não crescer?”

 

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