Adivinhe!
Esta é uma das muitas histórias que acontecem com a jovem Laura Iakowski, na flor de seus oitenta anos. Pianista, desenhista, pintora e comissária de bordo, do tempo em que elas eram aeromoças — Laura foi uma das pioneiras. Viveu a infância mais anos e anos em Campinas, na Rua Correa de Lemos, 160. O que ela sabe dos bastidores desta nossa terra nem ao monumento a Carlos Gomes confessa. Mas muito está neste seu livro, “Todas as cores e sons de um caminho”. Volta e meia, ela estará aqui, a conversar com a gente. Para começar, um desafio: duas aventuras vividas à bordo de vôos da Vasp, de São Paulo ao Rio, anos 40s.
Duas passageiras de fama internacional, duas pianistas. Pela forma de agir, na descrição da Laura, adivinhe qual é a campineira.
“Quando vi o nome de Stelinha Epstein na minha lista de bordo, fiquei entusiasmada. Muito simpática, loura, olhos azuis bem grandes e sempre sorrindo com alegria e amabilidade. Alegrou-se ao ser reconhecida por uma simples aeromoça. Contou-me que se sentia muito nervosa, pois seria sua primeira viagem aérea. Ia para a Alemanha, parando no Rio, para tomar um avião internacional. Pediu-me para se sentar ao meu lado e dei-lhe um lugar perto da janela. Assim que a porta do avião se fechou por fora, ela entrou em pânico, aos berros, histérica:
— Por favor, parem! Eu quero descer! Não vou mais viajar.
Ela ficara em pé no corredor, desesperada! Stelinha sentou-se, tremendo e chorando. Puxei conversa sobre música, o que a distraiu bastante, fazendo com que falasse sobre sua carreira e recitais. Já chegávamos ao Rio, quando Stelinha tirou seu diário da maleta e escreveu algumas linhas sobre o encontro que tivera comigo, fazendo questão de registrar o quanto a deixou feliz meu entusiasmo ao reconhecê-la.”
“Só poderia ser Magdalena Tagliaferro! E era mesmo! Que alegria causou-me. Finalmente conheceria de perto meu ídolo. Assim que ela entrou no avião, eu, encantadíssima, cumprimentei-a com efusivo sorriso, e em voz alta, justamente para chamar a atenção dos passageiros que talvez ficassem felizes em saber que a grande pianista viajava entre nós:
— D. Magdalena Tagliaferro! Que honra a senhora viajar com a gente!
Olhou-me friamente e foi sentar-se perto da janela, com seu segundo marido, Victor Konn.
Quando levei cafezinho e biscoito, tentei comunicar-me com a ilustre personagem:
— Assisti várias vezes às suas aulas públicas e adorei. Estudei com dona Menininha Lobo, sua assistente…
- Magdalena olhou-me com desdém, como se uma simples garçonete de bordo entendesse alguma coisa de piano.”
Pregado no poste: “É chique ser campineira”