Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2007Crônicas

Roubaram a boina…

… e ela nem viu! Não é preciso viajar de avião para saber das histórias. Basta conversar com a aeromoça certa, no lugar certo: por exemplo, o livro ‘Todas as cores e sons de um caminho’. É ela mesma, a Laura Iakowski, uma das pioneiras da Vasp. Ela sabe muito dos bastidores de Campinas.

Você, que como o Eustáquio Teixeira Gomes, mora ou morou na Rua Theodoro Langgaard, essa que vem de perto do Castelo até a Pedro de Toledo, sabe quem foi o Langgaard, assim, com “gg” e “aa”, de “exaggeraado”?

Dinamarquês, fez medicina em Kiel, na Alemanha, e em Copenhagen. Veio para o Brasil em 1842, passou um tempinho numa vila da Fábrica de Ferro Ypanema, perto de Sorocaba (SP), e se mudou Campinas, onde ficou até 1870, partindo para o Rio de Janeiro. Escreveu o ‘Dicionário de medicina doméstica e popular’, o ‘Formulário médico’,Sucintos conselhos a jovens mães para o tratamento racional de seus filhos’, uma biografia do naturalista dr. Pedro Guilherme Lund e… (aí, a coisa pega) uma comédia chamada ‘Maria ou a bela paulista’, de 1863, musicada por Santana Gomes, irmão de Carlos Gomes e encenada em Campinas. (Esta cidade era um delírio!)

Pois a Laura, pianista pela graça de Deus, conta que muito antes de Pedro II, Theodoro Langgaard foi dos primeiros a descobrir o gênio musical de Carlos Gomes e deu o dinheiro para a primeira passagem e para os primeiros dias do Tonico no Rio de Janeiro (será que o Langgaard chamava o Carlos Gomes de Tonico?). O maestro lecionou música para a filha do médico e ela recebeu dele as partituras do ‘Guarani’, ‘Fosca’, ‘Salvador Rosa’ e ‘Maria Tudor’. Presentão!

Discreta como a mestra Célia Farjallat, a Laura mostra o caminho, mas não conta o que acontece no fim. Atenção biógrafos do Tonico: querem saber detalhes desconhecidos de Carlos Gomes? São de deixar Maneco Músico, pai do maestro, de cabelo em pé. Procurem os alfarrábios do neto do Langgaard, o Rodrigo Octávio, advogado, magistrado, contista, poeta, representante do Brasil em numerosas conferências internacionais e faz-tudo do Machado de Assis na fundação da Academia Brasileira de Letras.

Laura gostava tanto de música que assistiu (que inveja!) aos festejos do centenário de nascimento do Carlos Gomes em Campinas, em 1936. Tão envolvida com a arte maior, nem sentiu quando alguém na multidão roubou sua boina.

Pregado no poste: “No Brasil, tudo acaba; até o Zé Rainha acabou empresário”

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