Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

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Régua, compasso e um abraço

Vai comprar material escolar para os filhos? Lembra? Muito antes do “Caminho Suave”, das canetas esferográficas, nos tempos da caneta de pau e pena, do lápis e da borracha, dos cadernos em brochura, às vezes até do papel de pão, comprar tudo o que enchia a bolsa da molecada era um passeio gostoso. Mochila? Mochila era para quem ia fugir de casa.

Os caminhos não eram muitos, mas muitos, acredito, nem existam mais. Havia a livraria M. Teixeira, na Francisco Glicério (acertei?); na Barão de Jaguara, a Gráfica Modelo, perto da Galeria Trabulsi, a Livraria Brasil, com seu Oswaldo Guilherme, e a Livro Azul, do Zeca Castro Mendes; a do seu Amêndola, na Bernardino de Campos; a Nossa Casa, com o Roberto Caruso, ali na esquina da General Osório com a Lusitana, perto do estúdio Eurydes; ainda na Lusitana, a Papelaria Estela; na General Osório, também, a Matosinho, ao lado do armazém do seu Sebastião Marino. E na Treze de Maio, além das Lojas Americanas, a Papelaria Anchieta, da doce dona Aída.

Vamos dar um pulo nessas lojas? Elas têm de tudo. Quando uma não tem, já indica outra e ninguém sai perdendo. Será que ainda existe o caderno Labor? E o Companheiro, com o mapa do Brasil e o Hino Nacional? Lembra do “caderno de ocupação”, um terror, páginas sem linhas, divididas em duas partes: “antes do recreio” e “depois do recreio”. Os espirais estavam chegando, da Íris e da Tilibra. Novidade que não agradava aos pais: era fácil arrancar as páginas… Existiam, ainda, os cadernos de linguagem e de caligrafia. Tem letra bonita? Nesta era digital, é difícil exigir dos filhos uma letra melhor do que o garrancho. Já nossos netos, sei não, nem letra terão. Para encapar esses cadernos, folhas de papel impermeável, papel manteiga ou de plástico.

Para quem escrevia com caneta de madeira e pena, como eu na Escola Alemã, hoje o Colégio Rio Branco, se o Timóteo Barreiro não tivesse a pena “Mosquitinho”, até o fumeiro do Mercadão vendia. Parker 51 e Sheaffer’s — sonho muito alto. O jeito era as Compactor ou Pilot, alimentadas com tinta Quink, azul real lavável, preta permanente ou violeta. Ainda tem disso? Que baú, hein? Lápis tinha de ser Johann Faber ou Dois Martelos e para apagar tudo, borracha Pelicano. Se a ponta quebrasse, apontador ou gilete, mesmo. Seu filho sabe o que é isso? Para aulas de Desenho, nanquim, compasso, esquadro e transferidor. Não precisava comprar régua: a Vanucci e a fábrica de chapéus Cury distribuíam. Não se esqueça de levar papel almaço, para os dias de prova!

E os livros? As cartilhas do Tomás Galhardo, da Benedicta Stahl Sodré (A pata nada, pata-pa, nada-na) ou a Seleta escolar. Masa Primus, de Latim. O do G. Mauger, da Librarie Hachette, e o Cours de Français, de Francês. O Learn to speak by speaking e o Spoken English, do Oswaldo Serpa, de Inglês. Matemática? Ary Quintella e Oswaldo Sangiorgi. Português? Domingos Paschoal Segalla. História? Borges Hermida e Joaquim Silva. Geografia? Haroldo de Azevedo. Biologia? Willy Beçak. Turma boa, né? De Física e Química, não quero me lembrar nem do nome dos autores.

Hoje, tudo isso parece inútil. Meu filho sai de casa com um disquete no bolso e, quando volta, “enfia” as aulas num computador! Uma vez, esqueci de levar o caderno de Francês e a saudosa dona Lícia Péttine me deu zero. Hoje, se a molecada esquecer a cabeça em casa, não acontece nada. Parecem robôs. Deus me livre!

 

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