Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2010Crônicas

Espanando o deserto

Pior do que está fica, sim.

Sabe quem vai perder essa “Guerra do Rio”? O povo. Algum ingênuo pensa que combater traficante acaba com o tráfico? A causa está sempre na origem e no destino: nos barões, que compram a droga de quem produz, e nos viciados, que com seu consumo sustentam o crime organizado – e pagam com a vida. O bandido não entrega o barão; o viciado não entrega os traficantes. Estes, como ervas daninhas, renascem. Lembra-se daquela estardalhante “CPI do Narcotráfico”?

Comandada por políticos, ela se instalou em várias cidades – em Campinas, foi uma apoteose. Estava chegando a hora de a CPI montar seu circo em Ribeirão Preto. O então deputado Celso Russomano até revelou para o caderno regional da “Folha de S. Paulo” que os alvos principais eram um grande empresário da educação e o dono de uma concessionária, de motos ou automóveis. A CPI acabou antes.

Fiz várias mesas redondas com bandidos na penitenciária de São Paulo.

Uma foi com traficantes de peso. Tanto que não falavam em quilos, mas em toneladas de cocaína. Craque era o Pelé: a “era Maradona” veio bem depois. Pela primeira vez, ouvi a expressão “tá dominado”. Usaram para dizer que já não havia escola primária, secundária ou universitária; municipal, estadual ou federal; civil, militar ou eclesiástica sem um representante do tráfico no corpo docente, discente ou indecente. E sem essa do coitado do pipoqueiro na porta do colégio: isso era coisa do tempo da maconha, pervitin, cheirinho da loló, dexamil, lança perfume… Lavolho na veia. Os jovens ainda moravam em casa e tinham pai e mãe. Grande coisa! Na recém-criada delegacia de narcóticos, pesquisa indicava que 79% dos viciados tinham experimentado pela primeira vez em casa…

O preço da maconha variava de acordo com a cotação do milho paraguaio: 1 por 100, disse o governador do Departamento de Amambay. O da coca, ditado pelos tais barões, que ninguém identifica, nem aqui nem na China, mas certamente nenhum vive os morros do Rio, na periferia de São Paulo, muito menos na região dos jardins, em Campinas: São Fernando e São Marcos. “De repente, vinha uma ordem: ‘Deixe a polícia prender bastante bagulho. Sai na imprensa e o preço sobe, por causa da redução da oferta.”.

Pregado no poste: “Guido Mantega trabalhou n’O Último tango em Paris?

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