Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2009Crônicas

Primeira vez

A proposta da Regina Trinca é enaltecer como nossos professores fazem parte de nossas vidas. O Dia do Professor está perto e Regina se lembra da Yonne, a ‘Miss Clark’. “Espírito jovem, adora viajar, conhece o mundo. Tem amigos em vários países, recebe pessoas de outros lugares como intercâmbio. Irreverente, bem humorada, brincalhona, sempre uma de nossas melhores aulas. Quando chegou ao ‘Victor Meirelles’, para substituir o professor Max Farjallat, fez uma votação entre os alunos para escolher um nome para ela — daí, ‘Miss Clark’.”.

Para nosso orgulho, a própria Miss conta aqui sua primeira vez:

“Antes de eu prestar concurso, monsenhor Salim, reitor da faculdade (não era Pucc, ainda), indicou-me para lecionar em Araras, como substituta; eu estava no último ano do curso de Letras Anglo-germânicas; fiquei apavorada, pois ainda não tínhamos tido aula de didática especial, nem de Inglês nem de Português, mas aceitei. Perguntei o que fazer; ele disse para eu me impor logo na primeira aula, pois aluno pega logo os pontos fracos do professor.

Na primeira aula do meu primeiro dia, o diretor apresentou-me à classe e me deixou entregue às ‘feras’. Comecei a aula e notei um aluno sentado na fileira da esquerda, ao lado de uma grande pia com bancada em mármore, com o pé sobre a pia. Chamei a atenção, ele tirou o pé; daí a cinco minutos, lá estava o pé… Novamente chamei a atenção, ele tirou. Pela terceira vez aconteceu o mesmo. Não falei nada. Coloquei um exercício na lousa e comecei a andar pela classe, até que dei a volta, por trás das carteiras, cheguei perto e… Abri a torneira da pia sobre pé dele! A água escorreu pela botina, a perna dele, e…:

— O que a senhora fez?

— Pensei que você quisesse lavar o pé; só quis ajudar…

— Agora, o que faço?

— Pode escolher: fica aqui, molhado, ou pode sair e tentar se enxugar.

A classe caiu na gargalhada, mas congelou, quando lancei a eles meu olhar nº 5, nada amigável. Ele preferiu sair, mas foi pego pelo inspetor de alunos e levado à diretoria. No fim da aula, com a turma ouvindo atentamente a correção do tal exercício, entram o diretor e o rapaz. O diretor perguntou por que eu tinha jogado água no aluno. Eu disse que não havia jogado, apenas aberto a torneira…

Para não rir, o diretor saiu de fininho, levando o garoto para entregá-lo ao pai, que tinha sido chamado.

Não tive mais problemas de indisciplina na escola, pois a história, devidamente aumentada, correu por todas as classes.”

Amanhã o José Carlos Caruso conta como era a “loirinha, baixinha, muito bonitinha”, que substituiu “La” Clark, em 1972.

Pregado no poste: “Mestres, lembram-se de sua primeira vez? Mande pra cá!”

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