Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2009Crônicas

Na ponta dos pés

Seo Antônio Ferreira acalmava os nervos na tarde de domingo, à espera do dérbi, jogando sinuca com seo Paulino Missola, sogro da filha, Mariluce. Puxei conversa pelo telefone, para saber por onde anda a loja de calçados Clark, que ficava ali na Glicério, quase esquina da Conceição: “Era de sapatos, mas não anda mais; fechou e agora é uma das Babies”.

Ele e a filha, com ajuda da sua Lucinda (sua benção!), começaram a se lembrar das outras: Piccolotto, Induscal, Mercado do Sapato, Feira dos Calçados, Neusa (resiste bravamente na Treze), Tops Criações, Lord, Veneto, Piccolino, Smart, Modelo, A Principal, Cherie, Terra…

Tudo porque eu procurava alguma informação em “Sobrados e Mocambos”, do Gilberto Freyre, e deparei-me com esta observação: “Os tamancos eram o tipo predominante de calçado urbano entre comerciantes médios, portugueses e brasileiros e entre operários, marítimos, negros e pardos livres. Já os calçados Clark, com solas de borracha, distinguiam os ingleses, habitantes abastados da cidade, enquanto as sandálias eram destinadas aos pobres e matutos do início do século XIX”.

Porca-pipa! Já naquele tempo! Larguei os mocambos do Gilberto e fui atrás da Clark. Veja o que aconteceu numa das lojas, onde era gerente o médium botucatuense Carmini Mirabelli, lá por 1915: “As caixas de sapato voavam das prateleiras, como se tivessem asas; verdadeiro pandemônio. Toda a imprensa de São Paulo se mobilizou, registrando com sensacionalismo os fatos, que nem o próprio Mirabelli conhecia. Foi chamado um sacerdote para o exorcismo, pois a imprensa tudo considerava como façanhas do demônio. Policiais foram convocados para guardar a loja, que permaneceu fechada por vários dias, sem encontrar a razão daquela brincadeira de mau gosto. Quando descobriram que só com a presença de Mirabelli ocorriam os fenômenos, ele foi dispensado e tudo voltou ao normal,”

E aí, espanto: A Clark foi fundada por ingleses em 1822 e fez o par de sapatos para d. Pedro I ser coroado. Assim como a Opananken, aqui de Franca, calçou Bento XVI, na posse. Mas ficou uma dúvida. Existe em Campinas também, uma francana de nome ‘Tribo dos Pés’. Ei, seo Ferreira, será que ela só faz sapato para índios?

Pregado no poste: “Não confunda inclusão digital com exame da próstata”

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