Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2008Crônicas

Derc(*)

E agora? Rir de quem? Rir com quem? Quem poderá rir de nós e ainda ganhar aplausos, muitos aplausos? Uma cúmplice de nossas iras, de nossa vontade de estraçalhar as nulidades – a grande lavadeira de nossas almas. Seu palácio em nossa cidade era o Cine Carlos Gomes, telona de imortais das alegrias do Brasil. Quase todos já partiram: Grande Otelo, Zeloni, Costinha, Golias, Nair Belo, Zezé Macedo, Maria Teresa, Murilo Amorim Correia, Zilda Cardoso, Mazaropi, Walter d’Ávila, Rogério Cardoso,  Walter Stuart, Arrelia, Pimentinha, Oscarito, Renato Corte Real, Chocolate…

Acuda meu Deus! Conserve para sempre o Zé Vasconcelos, Ary Toledo, Chico Anísio, Jô Soares, Ankito… Precisamos rir, nem que seja de saudade.

Derc(*) Deixou momentos mágicos na arte do Brasil. Como numa noite em que ela, Mazaropi, Isaurinha Garcia e a própria Hebe Camargo tiveram de encerrar o bate-papo no palco do Teatro Paramount, porque já havia gente passando mal na platéia, de tanto rir com eles. Diante da TV, minha avó fez xixi nas calçolas, minha mãe saiu da sala e eu perdi o fôlego. A barriga doeu muito naquela noite de domingo. Uma cena indescritível não me sai da memória, mas infelizmente há crianças, pudicos e pudicas na sala.

A censura impediu que seu programa nos primórdios de dona Globo se chamasse “Dercy Beacoup”, mas felizmente, não entenderam e deixaram que ela soltasse a perereca da vizinha que estava presa na gaiola… “Merci Beacoup”, senhores censores sem caráter.

Serginho Groissman tinha acabado de levar seu precioso “Matéria-prima” da falsa moralista TV Cultura para o SBT. E não perdeu tempo, soltou a fera diante da meninada. Chorei, enquanto via a moçada delirar de emoção. Queriam saber porque o pai tinha tocado Derc(*) de casa. Pureza de resposta: “Só porque eu queria ser como vocês…” Serginho não conseguia acabar o programa. Os adolescentes cercaram a diva, e abraçavam, beijavam e imploravam em coro: “Fica! Fica! Fica!”. Ela ficou – no coração de cada um de nós.

Pregado no poste: “O céu virou zona!”

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