Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2007Crônicas

Nem sonhando

Você já sonhou que está vivendo em outra época? Coisa de louco.

Sonhei que era o ano de 4.889. Puts! Isso tem mais de quarenta anos! Naquele tempo, na Rua José Paulino, só entre o Centro de Saúde e o começo da Rua Barão Geraldo de Rezende, havia três bicheiros: um sapateiro paraguaio, o dono de uma mercearia (vermelho como um pimentão) e um alfaiate italiano. O bicho era um jogo honesto e todo fim de tarde, de segunda a sábado, o resultado dos três era igual. Muito bem. Fui ao sapateiro jogar na milhar do futuro e vi a polícia na porta. Levaram o paraguaio! Dois carros bateram, como sempre, ali onde Zé Paulino, Orosimbo Maia e Delfino Cintra se encontram; foi um tal de gente parar, anotar as placas e ir jogar. Fácil: policiais largaram a ocorrência e foram atrás. Sem sapateiro, pimentão e alfaiate, desisti. Adivinhe a milhar que deu no segundo prêmio.

Sonhava juntar os amigos e tomar todos os sorvetes e comer todos os doces do carrinho da Kibon que vivia parado ali na porta do Centro de Saúde: Chica-bom, Eski-bom, abóbora-coco, Ki-bamba, Lingote… Tudo! Até os pirulitos embalados em celofane, espetados na borda do carrinho amarelo. E não se esqueça do guarda-sol azul e branco.

Da outra vez, o cenário era o século 17. Nossa insuperável mestra Quinita e sua inseparável irmã Áurea eram, acredite, bandeirantes. Não as que vestiam azul, mas elegantes, em longas capas, chapelões, botinas rústicas e bacamartes. Não caçavam riquezas, mas distribuíam, posto que são professoras de nascença e a sabedoria, seu maior patrimônio.

Mas o sonho de anteontem para ontem… Era o fim dos anos 60s, Santos Futebol Clube no auge. O fotógrafo Reginaldo Manente, cinco prêmios Esso na carreira, e eu paramos no ‘Frango Assado’ da Anhangüera para o sanduíche de sempre: calabresa com queijo prato. Antes, quando saí do banheiro, entrei no fraldário e lá estava ele, o rei do futebol, trocando a fralda de um bebê! Reparei em sua majestade um calva redondinha, redondinha, no alto da cabeça.

Depois das mesuras de praxe, saí de mansinho e segurei o Manentão: “Fique atento! Quando o Pelé sair do fraldário, mire a lente no cocuruto dele. O rei está ficando careca, Manentão! Ou então, fez tonsura e entrou em alguma ordem religiosa. Depois que você garantir a foto, eu falo com ele.” Teria sido fácil fotografar. Duro foi convencer o Manente de que o Pelé estava num fraldário.

Mas bem na hora em que ele apareceu na porta, o bebê chorou e eu acordei. Se eu contar para o Manenente que uma criança atrapalhou uma foto dele…

Pregado no poste: “Felicidade é Jambalaya com Ray Charles”

 

 

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