Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2007Crônicas

Sabe Deus?

Cada vez pior. Conta o sr. jornalista Roberto Godoy:

“Candidata a uma vaga de repórter mandou currículo, onde, além dos dados de praxe, como ‘fluente em alemão’, informa: 1. fez o caminho de Santiago de Compostela (ressalta: ‘completo’); 2. fez curso de primeiros socorros; 3. é paramédica treinada no atendimento a parturientes em áreas de risco.” Intrigado, Betão pergunta: “O que é área de risco para uma parturiente? As cavernas da Al Qaeda em Tora Bora? O Complexo do Alemão? O postinho de doença no bairro Campo Grande, em Campinas? O depósito ‘da Mattel em São Paulo? A fila do SUS em Maceió?”

Acrescento eu: palmeirense na torcida do Corinthians na geral do Pacaembu? Cidade do Rio de Janeiro pela manhã, à tarde e à noite? Campinas, se a turma da dona Izalene voltasse? O Largo da Catedral para um alecrim que seja? Presídio feminino em show de strippers masculinos? Camelódromos da Álvares Machado e Jaime Cintra, quando a polícia decidir combater a pirataria e o crime organizado? Imediações do Bosque dos Jequitibás atacadas por machistas de chicote em punho? Aeroportos do Brasil, tirante Viracopos? (Senhores. deste governo, ‘tirante’ é preposição e significa ‘exceto’; exceto quer dizer ‘sem ser’; e ‘significa’ quer dizer ‘quer dizer’).

Esta nossa conversa começou com a intenção de contar o triste episódio de exibição de prepotência passado num condomínio aí em Campinas, mas chegou a história irresistível do currículo da repórter de Compostela (“Currículo da repórter”? Êta expressão esquisita… “Esse ‘êta’ também entra para o seu currículo”, lamenta em muchocho aquela santa que mora aqui em casa.)

Vamos falar do condomínio na terça-feira, mas segue uma de prepotência acontecida na Via Anhangüera tem mais de 35 anos. O querido soldado Alita, da nossa então gloriosa Polícia Rodoviária, parou um carro aí perto do km 99. O motorista, além da alta velocidade, estava sem a carteira de habilitação. Já
desceu posudo:

— Sabe o coronel fulano de tal? Ele é meu primo!

Tudo para intimidar o policial. O cara encheu tanto a
paciência, que o Alita, com aquele jeitão cínico e gozador só dele, olhou para o corrupto e falou:

— Sabe Deus? Então, ele é meu pai!

Alita foi aplaudido. Até buzinaço ganhou. E o prepotente calou.

Pregado no poste: “Para bom ignorante, nenhuma palavra basta”

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *