Provas
Na aula de catecismo (naquele tempo, catecismo era na igreja; depois passaram escondidos para as bancas de jornais, até se tornarem tese de doutorado e literatura cult). Conforme eu dizia, na aula de catecismo, na igreja do Carmo, monsenhores Lázaro Mütchelle e Agostinho pediam às catequistas que, para exemplificar bem a existência de Deus, a melhor comparação é esta: “O universo prova a existência de Deus como o relógio prova a do relojoeiro”. Eu já imaginava seo Caetano Failacce, na General Osório, e o Chinelatto, na César Bierrenbach, fazendo todos os relógios do mundo.
Arrelia, o eterno palhaço, representou um teatrinho no Municipal. Ele na sacada do sobrado e a ‘filha’ namorando na soleira, logo embaixo. O namorado pedia um beijo e ela negava:
— Não pode! Deus castiga!
— Mas que Deus? Onde está Deus?
— Lá em cima…
E o Arrelia exclamava:
— Dééus! Eu sou Dééus!
Para a molecada, ele era um deus.
Agora, o Piteco (vulgo Marco Antônio Quintas) conta esta história, de 1892:
“Um senhor de 70 anos viajava de trem. Ao lado, um universitário lia seu livro de ciências. O senhor lia um livro de capa preta. O jovem percebeu que era a Bíblia, aberta no Livro de Marcos. Sem cerimônia, ele interrompeu a leitura do velho e perguntou:
— O senhor ainda acredita neste livro cheio de fábulas e crendices?
— Sim, mas não é um livro de crendices. É a Palavra de Deus. Estou errado?
— Mas é claro que está! O senhor deve estudar História Universal. Veria que a Revolução Francesa, há mais de 100 anos, mostrou a miopia da religião. Somente pessoas sem cultura ainda crêem que Deus criou o mundo em seis dias. O senhor precisa conhecer um pouco mais o que nossos cientistas pensam e dizem sobre tudo isso.
— É mesmo? E o que pensam e dizem os nossos cientistas sobre a Bíblia ?
— Bem — respondeu o universitário –, como vou descer na próxima estação, falta-me tempo; mas deixe seu cartão, que eu lhe enviarei o material pelo correio com a máxima urgência.
O velho, então, abriu o bolso interno do paletó e deu seu cartão ao estudante. Quando o jovem leu o que estava escrito, saiu cabisbaixo, sentindo-se pior do que uma ameba. No cartão estava assim: “Professor Doutor Louis Pasteur, Diretor Geral do Instituto de Pesquisas Científicas da Universidade Nacional da França. Um pouco de ciência nos afasta de Deus. Muito, nos aproxima.”
Na Unicamp, o físico César Lattes identificou a ‘bola de fogo’, ou quarto estado da matéria, plasmático, que precedeu o ‘big bang’. Ele encerrou uma entrevista anunciando: “E dentro da teoria do plasma, encontrei Deus!”.
Pregado no poste: “Deus é brasileiro, mas não precisa de avião”