Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2004Crônicas

Prezado Dr. Rogério,

Como o senhor é aquele que sabe muito mais do que “tudo nóis junto” e vai assumir a secretaria que será só da Cultura e Esporte, deixando Lazer, Turismo para outro com mais afinidade (o Roberto Godoy me contou), quero trocar umas figurinhas com o senhor. Quando o Beto falou da novidade, ficamos a elocubrar: “Imagine o Rogério Cerqueira Leite dando ponta-pé inicial em jogo de várzea e a torcida perguntando ‘quem é esse, quem é esse?’. ‘Esse’ é uma das pessoas mais importantes do Brasil, mas no Brasil, para quem é importante, mesmo, não dão importância. Campinas, espero, voltará a ser diferente, como sempre, quando não precisava saber onde fica o mundo.

Escrevo esta crônica em letras verdes — com a sua cultura na Cultura, há esperança.

Será que é possível Campinas sonhar com o que começa a acontecer nos EUA? Mestre, li no New York Times que seus pupilos de Harvard, Stanford e Oxford fizeram um acordo com o Google (aquele sítio de pesquisa) e vão colocar na Internet, de graça para o povo, o conteúdo completo de 15 milhões de livros das bibliotecas das três universidades. Sabe quanto vai custar digitar e exibir para o mundo cada livro? U$ 10! Isso, R$ 27 e qualquer coisa – mais barato do que nas livrarias.

Coisa de americano. Vão dizer que eles são ricos e podem fazer. Enquanto o Bush destrói, eles têm milhões de cidadãos interessados em levar conhecimento bom – e de graça — para a Humanidade, sem dar pelota para o governo. Claro que toda essa maravilha será financiada por empresas e por milionários – outro dia me contaram que quem banca o curso de Física da Universidade de Nova York não são os novaiorquinos, mas a Barbra Streisand (sempre gostei dessa mulher; agora, gosto mais ainda). Eles são ricos porque trabalham, estudam e o governo não atrapalha. Quando atrapalha, eles tiram – ou matam. A Constituição deles é pequena porque foi feita para vigiar os governantes, não o povo. Aqui, é longa, porque foi feita para proteger os políticos da fúria da sociedade injustiçada.

A diferença é que aqui, há milionários que mandam dinheiro para a Suíça, lá investe no bem-estar da sociedade – está certo que há os ricaços que aplicam em fábricas de armas também. Mas os americanos são campeões em tudo, do bem e do mal. E nós imitamos só o que é do mal. Um exemplo de besteira: por que mascar chiclete, meu Deus?

Lógico que não estou pensando em ver a nossa (com o senhor, ela é nosssa) Secretaria de Cultura mandando digitar 15 milhões de livros – creio que não haja 15 milhões de títulos disponíveis no Brasil inteiro. Mas o senhor acha que é possível começar, doutor Rogério? Coisa pouca. Primeiro para as crianças e jovens – que adoram mexer em computador: Lobato, Ziraldo, Rute Rocha, Zé Mauro, Graciliano, Érico, Mário de Andrade, Machado, Lima Barreto… Guilherme de Almeida e todos que escrevem sobre Campinas: Celso Maria de Mello Pupo, Zeca Mendes, Bráulio Mendes Nogueira, Célia Farjallat, Odilon Nogueira de Mattos, Rubem Alves, Alexandre dos Santos Ribeiro, José Roberto Amaral Lapa, Benedito Barbosa Pupo, Jolumá Brito, Pedrinho Bondaczuk, Luís Carlos Borges, os Ribeiro Sampaio, Nelson Omegna, João Nunes, Norberto Paschoal, Roldan-Roldan, Telma Guimarães, Samuel Lissmann, Rita Ribeiro… Nossa! Os autores da Unicamp e a Maréa, da Mercado de Letras, podem ajudar muito.

Da editora que vier com conversa de direito autoral sobre obra fora de catálogo a gente denuncia o egoismo – e o mercantilismo.

Atenção, senhores empresários daqui e de fora, brasileiros e “do Brazil”, está na hora de voltar a acreditar nesta cidade. Vamos nessa?

Pregado no poste: “Agora, se é preciso ter cultura, Campinas tem!”

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *