Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2004Crônicas

Até as cigarras

Campinas recebeu gente especialmente de Paris, Brasília, Chicago, Porto Ferreira, Tóquio, Ribeirão Preto, de toda parte. Uma revoada mundial, para celebrar os 130 anos do Colégio Culto à Ciência, a escola pública mais lembrada, festejada e querida do Brasil, por obra e graça de seus mestres, funcionários, alunos e ex-alunos, de ontem, de hoje, de sempre. Um exemplo que propaga a magia daquele templo.

“Sábado? Sábado, não posso! É a reunião da turma do Culto à Ciência.” Nem terminei de justificar: “Ah! Ouvi falar. Nossa! Quando eu era moleque, lá em Sorocaba, meu pai queria muito que eu estudasse lá! Uma pena, mas não deu… Sabe, eu tive uma tia, nascida no Líbano, irmã do meu pai, que foi aluna, lá. Sofreu para aprender, mas de Francês, tirava dez sempre!”

Eu queria dar aqui os nomes de todos os que organizaram o encontro, digno das Campinas dos bons tempos   , quando ninguém fazia nada no Brasil melhor do que os campineiros. Mas falou mais alto a lição de humildade que sempre recebíamos em todas as aulas. Veja o que um deles falou: “A atenção quem nos deus foram ‘todos nós’ que lá comparecemos. Quando você pede: ‘Quero que mais gente saiba quem são todos vocês. que organizaram a festa, e da grandeza do que vocês são capazes’, nós respondemos: ‘Nós somos todos, todos que lá estivemos, desde aquele que veio de Sousas até aquela que veio de Paris ou aquele que veio de Chicago, da pessoa que limpou o banheiro até aquela que estava na ambulância. E assim vai! Tivemos um cheque assinado em branco por todos, na certeza de que todos honramos o compromisso. A presença de todos foi muito importante. Obrigado!”

Momento sagrado, de repente — daqueles que ninguém combina. Parece que levados pelas mãos de Deus e de dona Mariinha, seguidos dos que lecionam no Céu, elas e eles ali, à nossa frente, felizes, como sempre nos fizeram felizes: Zilda Rubinski, Quinita Ribeiro Sampaio, Celina Duarte, Águeda Sarto de Nucci, Ida Rosa, Luciana Smanio, Pedro Stucchi Sobrinho e o professor Basílio, do alto de seus 94 anos. Ah se o Brasil conhecesse o valor insuperável daquela nossa gente que eles e elas simbolizavam ali!

Tudo começou ainda de manhã, com um belo coral para enaltecer o culto ecumênico, no “pátio das meninas”. E não faltou quem se lembrasse daquela cigarra, que apareceu para nos levar aos tempos da escola e acender a centelha da lembrança: “Agora, só falta o professor Hilton sair indignado ali da sala de Geografia, para ver se espanta a bichinha que o obrigava a falar mais alto, para nos ensinar.” Lembra?

Pregado no poste: “Puts! Como era bom viver em Campinas!”

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