Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2004Crônicas

Tem bobo pra tudo

Você daria R$ 618 por um guarda-chuva? E R$ 495 por um par de chinelos? Já tem coleira pra cachorro por R$ 980, e arroz orgânico a 55 “merréis” o quilo. Sem falar numa esponja de banho, que não chega aos pés da velha bucha (nem da velha bruxa), por R$ 75! Ali no Mercadão de Poços de Caldas, vendem um pacote de bucha por dois “merréis”. Estão durando até hoje – uma delícia para agitar o sangue.

Essas “ofertas” estão numa revista nova, dedicada à tal da elite. Ela é muito divertida, porque não se envergonha de expor tamanhas barbaridades.

Imagine que, na capa, tem um homem, coitado, que precisa de 16 pessoas para cuidar do bem-estar dele. E não se trata de um deficiente. Desde aquele que serve o café da manhã até a manicure, passando por copeiro, “professor de ioga e sabedoria”, piloto de helicóptero, escudeiras de escritório-casa (o que será isso?), gerente do lar, médico-guru… Aparece até um ilustre campineiro – gente finíssima, admirável — nessa galeria do requinte. Até aí, nada demais, quem pode pode, quem não pode se sacode e ninguém tem nada com isso.

Mas o preço das coisas é de lascar. Quer ver mais? Olhe só a cesta básica deles: água de coco, R$ 27 (o copo!); almofada (detalhe, “para descansar os pensamentos mundanos”), R$ 178; cadeira de preguiça (hoje eles chamam isso de ‘chaise longue glamourizada’ ), R$ 1.950. Tem um par de chinelo de pau com uma tirinha, aquilo que a vó da gente chamava de tamanco, por 65. É mole? Não, se é de pau, deve ser duro…

Numa das páginas, sugerem um traje típico para quem vai pedir emprego de gerente comercial. Nem somei, mas calcule o preço da fatiota completa: jaqueta, R$ 439,00; camiseta (chamam de T-Shirt), R$ 156,00; calça de poliéster (deve suar as pernas até não poder mais), R$ 159,00; sapato, R$ 250 e relógio Dumont, R$ 140. Esta é a peça mais barata porque homenageia um brasileiro. Se o relógio se chamasse “Wright Brothers”, custaria o triplo. Como falta a cueca, deduzo que gerentes comerciais não a usem…

E os modelitos para andar de barco, então? Se o Cecílio Elias Neto vir alguém vestido assim para pescar nas barrancas do Piracicaba vai ter um chilique. Está sentado? Bermuda, R$ 105; camiseta, R$ 96,00; jaqueta (“acompanha chapeuzinho” e é pra homem, Cecílio! Uma graça…) R$ 2.576; boné, R$ 196; bolsa (também para homem), R$ 860, e tênis, R$ 936.

Pregado no poste: “E Deus fez todo mundo pelado…”

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